AS MONSTRAS
- Espera, meu filho! Cuidado como o carro, menino!
- Tô vendo.
- Xandinho, espera a mamãe!
- Num espero.
- Você vai ver uma coisa. Lá na frente tem um bicho horroroso.
Quanto mais a mãe falava, mais o garotinho andava depressa.
Num salão de beleza, ali por perto.
- Sérgio, o meu cabelo está bom?
- Ainda, não, Julinha. Tem que clarear mais.
- E o meu?
- Também, não. Estou caprichando para os reflexos ficarem divinos.
- Olha, eu sou morena e não quero que fique muito claro.
- Pode ficar tranquila, que não vou lhe deixar loira.
Ao passar em frente ao salão, o menino ficou paralisado ao ver as duas mulheres com aquelas toucas furadas, de silicone, com os cabelos arrepiados e deu um grito de pavor.
- Mãe!!! Olha as bruxas!!!
- Viu? Quem mandou você ir na minha frente?
- Tô com medo delas!
Quando a mãe chegou e olhou pelo vidro, disse:
- Não são bruxas, meu filho. São duas mulheres.
As freguesas, sem graça, olharam uma para a outra e para o cabeleireiro.
A mãe, mais sem graça ainda, tentou acalmar o guri.
- Calma, meu filho, estou aqui.
- Tô cum medo! Pega eu no colo!
- Olha direito, Xandinho. Não são bruxas.
- Então, são duas monstras!