Vivam os Mestres!
 
O material escolar mais barato que existe na praça é o professor.
Jô Soares

Quando criança, adorava bancar a professora. Vocação instituída, ali pelos quinze anos, dei aulas de reforço à meninada do prédio.
Porém, Na hora de definir carreira, a estabilidade financeira falou mais alto e minha vocação docente ficou lá, adormecida no passado. Se o quadro já era desanimador, hoje, então, chega a ser digno de pena: escolas sucateadas, pais ausentes, crianças desnutridas, exauridas pelo trabalho infantil ou, simplesmente, desinteressadas, na injusta disputa do quadro negro contra os jogos, computadores e celulares. A má qualidade da educação inviabiliza o emprego, marginaliza o cidadão e inviabiliza a economia do país, estagnada, pela ausência de mão de obra qualificada.
E os professores, coitados, desestimulados por salários ridiculamente baixos, vulneráveis à violência de alunos e pais, lutando heroicamente por sua vocação. Mesmo que, para isso, tenham que ir às ruas em protestos, como recentemente no Rio e em SP, mesmo sob risco de agressão policial.
Alheios a tudo isso, nossos maus governantes preferem o povo mal informado como forma de se perpetuar no poder, pois a falta de estudo também impede a formação de senso crítico e consciência social.
O que vemos por aqui é apenas a falaciosa determinação de cotas para que alunos das escolas públicas possam ingressar nas universidades federais. Esta medida, embora se apresente como solução para que o estudante menos favorecido possa conquistar o diploma superior, mostra-se perniciosa enquanto desobriga o Estado de melhorar a qualidade da escola pública e ainda tende a nivelar por baixo o ensino universitário, que, a propósito, também está longe de merecer um 10. E, quando precisamos, nos deparamos com profissionais despreparados, incapazes de executar suas funções com o mínimo de qualidade.
Talvez, em algum momento, o Brasil acorde e perceba a importância de adotar políticas sérias de incentivo à educação, como aconteceu na maioria dos países emergentes.
Até lá, só nos resta compensar os nossos mestres com o respeito, o carinho e a reverência que eles merecem. Antes que, cansados, desistam dessa paixão!

 
Texto publicado no jornal Alô Brasília na edição de 18/10/2013, reeditado a partir do texto Salve, Salve, Professor!, publicado neste Recanto das Letras em 15/10/2013.