A ÚLTIMA VIAGEM.

Estava em um local onde conserto os computadores no bairro onde moro, é de conhecido do tempo da juventude, já me questionou algumas vezes sobre a última viagem, sobre o que penso, falei o que pude. Sempre me crivam quando lá vou de perguntas, como se fosse o oráculo que não sou, pobre de mim, um exercitador de perguntar, sem interrupção.

Fora suas costumeiras indagações sempre respondidas sobre sua "união estável", com soluções sempre apontadas e nunca executadas, surge sempre o tema da "última viagem", a morte, com o que ele não se conforma. Quem se conforma? Nem o mendigo da rua, despojado da sorte, nem quem vive grandes infortúnios. Os suicidas - covardes ou corajosos? - creio que estão fora do domínio da consciência, tanto é que quando é possível abortar o resultado, o fazem.

Entrando ele nesse tema, "de novo", a morte, disse a ele: sabe qual a razão de sua preocupação, é a idade. Ele falou, não, não; ele tem sessenta anos. Eu disse a ele apontando David, um de seus auxiliares na loja que tem dezenove anos: pergunte se ele pensa nisso. David respondeu na hora: NÃO!

É isso meu amigo, eu devia ter mais medo ou incompreensão sobre a morte quando era jovem e fazia inumeráveis bravatas, como encarar quem engatilhou revólver na minha cara, tombar de motocicleta várias vezes com sequela no joelho, ficar pendurado em uma corda de alpinismo em alturas gigantescas, desafiar perigos sem conta e nada passava sobre morrer em minha cabeça. A morte não era de minha intimidade, isso não fazia parte de meu "cardápio" entende, eu era um "super man". Dá para entender, nada podia acontecer contra minha juventude. Por isso jovens morrem em enxurradas em eventos sem previsão de risco, quando há muito risco. Meu genro é parapentista de ponta na Pedra Bonita, com mais de 2.000 saltos, saiu na capa do tabloide do Globo da Barra, fosse eu jovem estaria nessa também, e digo a ele, que cansa de me intimar para voar com ele, em voo duplo, que ele não me bota nessa "cafifa". Minha bravata é ser viciado em moto, mas a família me impede de andar, porque "ando forte" como se diz no meio, e vou me virando em dar uma escapada na moto de amigo, pois me proibem de comprar uma hayabusa. E engraçado, obedeço.

A "última viagem" é difícil entender para quem no tempo se aproxima mais dela, ato previsível na máquina do tempo, mas há uma alternativa melhor do que a última viagem diante da juventude imprevisível, FICAR SEMPRE MAIS VELHO.

A alternativa de não se ficar mais velho é pior, a última viagem. Se te perguntarem o que acha de ficar velho, responda, a alternativa é pior. Mas que seja uma velhice independente.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 18/10/2013
Reeditado em 18/10/2013
Código do texto: T4531099
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