CRESCER

A solidão tem batido à minha porta, e mais, tem adentrado por essa e se sentido em casa. Essa visita tem me feito pensar e quase queimar os neurônios. Fato é que morar só não é uma tarefa fácil.

O silêncio faz bradar as vozes interiores. Na falta de sons, retumbam, ecoam os segredos nossos que não queremos desvendar.

A solidão te obriga ao encontro contigo mesmos, deparar-se com teus monstros, teus medos, tuas fraquezas.

Esse encontro contigo mesmo por sua vez, remete ao crescimento e crescer, cá entre nós, também não é lá uma das tarefas mais agradáveis.

Crescer é desvencilhar-se dos aparatos que facilitam a caminhada. É tirar as rodinhas da bicicleta É não ter quem abasteça a dispensa, pague as contas ou providencie o gás da cozinha que acabou.

Crescer é estar diante das escadas da vida sem corrimão e ter que, irremediavelmente, subir os degraus um por um, sentindo os dissabores e as delícias dos teus próprios passos.

Indubitavelmente, cresce-se com o outro. Mas este crescimento é baseado na troca e se não há um crescimento anterior, provocado pelo autoconhecimento, a troca fica impossibilitada, há, no máximo, transferência e transferência deve ser entendida não como acréscimo, mas como mero acúmulo, geralmente, inútil.

Assim, para crescer com os outros é preciso crescer primeiro sozinho, encarar a solidão como grande e necessária aliada. É preciso estar inteiro para completar-se e completar.

Que seja, então, bem vinda a solidão.

Manoela Franco

16.OUT.MV