Bom Jesus de Matosinhos
Não havia mãe que não se sensibilizasse diante daquele Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Não que fosse bonito, como as estampas coloridas de Jesus, que se via nas revistas ou nas folhinhas do Sagrado Coração - e que se imaginava ainda mais bonito, mais cordato, manso e meigo.
Mas aquele painel enorme, em cores escurecidas, quando estendido ao longo de uma parede pegava mães e pais - e não os soltava mais. Era a oportunidade que tinham de banhar os filhos, vesti-los com a sua melhor roupa, penteá-los e plantá-los em frente aquela gravura quase monumental para uma foto que iria eternizar uma devoção, e quem sabe, valer, mais pra frente, indulgência pra salvação?
E o retratista que havia trazido a novidade ao povoado, um Zazá, era todo paciência e boa-vontade, como se fosse sócio daquele Cristo pregado na cruz, fazendo aquela careta de truz, ah como sofreu até na gravura, tão dura, aquele nosso Jesus!
E lá nos íamos, meninas de branco, angelicais, assentadas diante de um banquinho forrado, meninos de pé, de mão dadas, ou mão no peito, meiinhas pre-náilon, as soquetes, ameaçando descer canelabaixo, por isso dobradas na boca, pra dar firmeza. E a foto, que beleza, aos pés do Cristo. Não dava pra fazer a peregrinação a Matosinhos, mas ali estava a prova de nossos arminhos, nossos carinhos...