NÃO BASTA CHUPAR A PONTA DO DEDO MOLHADO NA ÁGUA DO MAR PRA SABER QUE ELA É SALGADA

De dois em dois anos temos eleições no Brasil. Parece um festival de democracia; mas não é. Democracia não é, como se abe, penso eu, o povo elegendo representantes para dirigirem os destinos ou desatinos na Nação tomada por democrática, esse delírio mal compreendido. Democracia é bem mais do que isso; mas posso resumir numa frase que é o compromisso e a responsabilidade de quem vence por maioria, tratar, sobre tudo, das necessidades da minoria.

Não gosto do nosso sistema eleitoral e ando cansado de ver que qualquer decisão, desde reunião de condomínio – que não participo por nojo – a da turma no bar decidindo quem paga a conta pelo voto democrático, é democracia. É a tal de maioria simples. Se em 100, 51 aprovar 49 estão desgraçados.

E temos que suportar a Campanha Eleitoral com as velhas promessas para “melhorar ainda mais”, dizem os que querem reeleger-se; ou simplesmente “MELHORAR”, dizem os “novatos”, a saúde, educação, segurança publica e uma ou outra estupidez delirante, como pontos de ônibus com ar condicionado ou o fim do serviço militar obrigatório, como prometeu na eleição passada um candidato a... vereador. Esse assunto ainda pode render muitas crônicas.

Como se sabe a campanha político/eleitoral já começou e as pesquisas já estão apontando quem será eleito “se a eleição fosse hoje”; mas, que pena, não será!Como se sabe, as pesquisas podem ser qualitativas, quantitativas, estimuladas e espontâneas – que é a mais marota de todas, já que o eleitor é estimulado a palpitar vendo a foto dos candidatos, “todos jovens e belos, retocadas com fotochopi esse mágico que só não consegue dar nem uma melhoradinha sequer na Graça Foster, agora tida como uma das mulheres mais poderosas do mundo – o que me dá é medo -!” ouvi outro dia comentando sobre esse assunto as irmãs Dona Herda e Dona Hosta, ex-censoras, hoje aposentadas, do DOPS. E também se sabe que as pesquisas podem ser bibliográficas, descritivas, de campo, acadêmicas e científicas que são bem mais severas e complexas. Dessas, ditas comerciais, tanto faz pesquisar sobre o sapato que as mulheres usarão no próximo verão, tanto quanto em que prefeito o entrevistador vai votar; são todas comerciais pagas mercantilizadas; e a metodologia é a mesma. Já analisei pesquisas sobre intenção de voto e também sobre a intenção de que modelo de sapato as mulheres comprarão; as conclusões muitas vezes são, até mesmo, previsíveis. Dentro da margem de erro é claro.

Quando perguntei para um velho honorável professor de estatística por que entrevistando 1000 pessoas ou 10 a probabilidade é a mesma, ele me deu uma resposta simples e lógica; “para saber se a água da praia de Cidreira/RS é salgada basta molhar a ponta do dedo e lamber. Não é necessário beber toda a água do Oceano Atlântico”! Boa resposta para um ignorante ainda bacteriologicamente puro.

Mas há como manipular a análise das pesquisas – não os resultados, necessariamente, ainda que também se possa fazer isso a partir do conjunto das atividades previamente planejadas para o que se deseja saber. Na pesquisa de campo, que observa fatos e fenômenos, deve-se compreender e, principalmente, explicar o que foi pesquisado entre grupos de indivíduos, ou instituições para com isso entender quais são os aspectos diferentes de determinada realidade. É isso que pretende a pesquisa eleitoral.

Entretanto o que é amplamente divulgado, com o claro intuito de influenciar futuras pesquisas de determinados candidatos a cargos eletivos, não corresponde à realidade pesquisada; seja pelo pequeno número de entrevistados, muitas vezes com inexpressivo peso sobre o universo total dos eleitores. E nesse caso não basta molhar a ponta do dedo na água do mar para saber que toda ela é salgada. É preciso, saber a temperatura da água e em que hora do dia ela e mais quente ou mais fria, se lambemos o dedo molhado da água de mar aberto, ou se de uma pequena enseada, que altura as ondas alcançam e em que época e por qual motivo, se o fundo da área pesquisada é de areia, de coral, ou de arrecifes. Pois apenas com o conjunto dessas informações pode-se afirmar, ainda que com margem de erro, que praia é essa; para que serve, quem pode frequentá-la, quando, como e por que.

Tomo como exemplo pesquisa recente, a primeira de dezenas a serem feitas neste ano eleitoral, sem revelar onde foi feita, quem são os candidatos pesquisados, porque acho que não merecem ser revelados. Seria propaganda gratuita; e isso nunca fiz.

Certo senador, que chamarei de Olí, e que ainda faz fosquinha em cima do muro se vai ou não ser candidato a governador do Estado, aparece em todos os cenários de uma recente pesquisa com uma variação de 37% a 45%. O candidato do atual governador, o Mafí, tem 10% das intenções de votos e é de um governador que, com a mão no fogo, jura que não será candidato, e que cumprirá seu mandato até 31 de dezembro de 2014. Quem já não ouviu essa digamos... promessa? Esse governador que indica e apoia, lógico, o Mafí com 10% das intenções de votos, é aprovado por 63% dos eleitores na mesma pesquisa. Assim o Olí, que é senador do partido de coligação do governo atual, com uma conversa ali e aqui, pode ser eleito no primeiro turno, derrotando o Mafí que recém se bandeou pro tal de Pros, fundado por um ex-vereador de Planaltina, na periferia de Brasília eleito com 810 votos.

Mas a máquina pública, os empresários, empreiteiros; os bandeiraços em cada esquina, as toneladas de papel, camisetas, bonés, óculos de graus diversos servindo para melhorar todo tipo de cegueira,as dentaduras de tamanhos variados para qualquer boca desdentada, e um “agrado” aqui, outro ali e mais e mais outros lá e acolá, e os programas de rádio e de televisão, tudo isso, elegem o Malí.

Agora entenda que não basta molhar a ponta do dedo para tão somente saber que a água de todo o oceano é salgada. Nessa recente pesquisa o detalhamento por região do Estado foi divulgado com o OlÍ em primeiro lugar; só que em comparação com outro candidato que não era o Mafí. No cruzamento de renda e escolaridade aparece o Olí com 70% das intenções de votos com um outro candidato que não é o mesmo do item feito por região. Nas dez simulações que o Instituto de Pesquisa fez a maior liderança política do Estado, ex-governador e senador por dúzias de vezes, não foi incluído. Em outros levantamentos ele aparece vencendo a eleição para o governo ou para o senado folgadamente; dessa vez resolveram tirá-lo dos tais de dez cenários de simulação.

Atentando para os detalhes da pesquisa, 56% do pesquisados querem que o próximo governador mude todas as políticas praticadas pelo atual (como se o povo soubesse o que é isso); que é quem a pesquisa aponta ter 63% de aprovação. Assim se manipula resultados de pesquisas eleitorais. E povo vota por mudanças só por mudar. Vota porque fulano “merece”, como se cargo eletivo fosse alcançado por merecimento, Vota naquele que as tais pesquisas mostram quem vai ganhar, só por ganhar; por simpatia, porque é filho da vizinha ou da comadre; ou votam no primo da mãe do Badanha.

O Brasil não é o país mais corrupto do mundo, diz a ONG Transparência Internacional, nem nunca achei que fosse. Estamos na 69º posição entre os 176 países da lista, empatado com a Macedônia e a África do Sul. Não somos os piores, mas também não somos lá essas coisas; o que não me consola. Nós todos estamos sonhando enquanto os candidatos estão mentindo acordado. É o que está informando meu PTismógrafo. Sonhamos com um Brasil descente, país do futuro; sonhamos que nossas flores são mais lindas do que as flores dos outros, com mais vida e mais amores. O tuitar de nossas aves não tuiteiam como as de Plutão do norte. Assim sonhamos a sobra das laranjeiras e debaixo dos viadutos, pontes e escombros de prédios caídos, esperando o resgate, que o suborno ao fiscal não manteve de pé.

Não permita Tupã que eu morra sem desfrutar os primores que por mais que eu procure não os encontro por cá, por lá, nem por laralalá. Sem qu’inda pelo menos possa dar uma vista d’olhos nas palmeiras, onde cantam os chatos dos sabiás.

CESAR CABRAL
Enviado por CESAR CABRAL em 16/10/2013
Código do texto: T4528197
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