Meu minúsculo quarto

Ganhei um micro-ondas. Isto é, de certa forma ele não é meu. Acontece que, depois de três anos alugando o mesmo quartinho, D. Lúcia se sensibilizou e achou que já estava na hora de eu poder esquentar marmitas. Meu quarto, portanto, agora tem um micro-ondas. Mas o mais difícil não foi comprar um micro-ondas, e sim encontrar um lugar para ele dentro do meu minúsculo quarto – gosto de compará-lo a uma despensa, ou ao estábulo onde nasceu Jesus.

É até possível que duas pessoas permaneçam dentro dele ao mesmo tempo, mas o problema começa a partir do momento que uma delas tenta cruzar o quarto na direção do banheiro. Como geralmente essa pessoa não possui a estrelinha do Super Mario, ela precisa que o outro saia do caminho, o que nem sempre é fácil, e normalmente a melhor saída é irem juntos ao banheiro. Acrescente-se que existe ainda um banquinho em que fatalmente se tropeça a cada movimento brusco. Eu costumo usá-lo quando sento à mesinha do computador, que coincide ser também a mesinha de refeições, além de repositório de mercadorias e, quando sobra espaço, minibiblioteca, arquivo de papéis, eventualmente uma farmácia. Minha vida está em cima dessa mesa.

Justamente ali que D. Lúcia queria colocar o micro-ondas. Isso obrigaria a deslocar o meu notebook para um compartimento inferior, onde já existe um teclado externo. Outra possibilidade era ao lado do guarda-roupa, onde há um ventilador em cima de uma mesinha. Isso me obrigaria a achar outro lugar para o ventilador. Eu poderia colocá-lo em cima do frigobar, o que me obrigaria a tirar a televisão de lá. Talvez se eu colocasse a televisão em cima da cama e fosse dormir lá fora.

A cama, inclusive, é o lugar onde mais há espaço livre no meu quarto, e no que depender da D. Lúcia continuará assim por muito tempo. Por fim decidimos deixar em cima da mesa mesmo e eu transferi o teclado para o meu colo. Agora é esperar que nada se mexa. Mas se um dia aparecer um fogão, eu fujo de casa.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 16/10/2013
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