Tempos rudes.
Ele havia acordado cedo pra ir trabalhar. Quando o relógio acusou 8 horas, já estava saindo de seu apartamento em um pequeno condomínio de 8 andares. Pegou o elevador junto com mais 4 pessoas, um jovial executivo engravatado, uma senhora de meia idade aparentando 40 anos, uma senhora idosa e um estudante. "Bom dia, senhores", disse ele ao entrar, recebendo o silêncio e olhares como resposta, como se a presença dele lhes fosse estranha, ou como se ele não fosse bem-vindo ali. Chega no térreo o elevador, quase todos saíram depressa, como se ignorassem a presença uns dos outros...menos ele, antes de sair ele diz um "espero que tenham um ótimo dia". Ia se dirigindo à portaria. "Bom dia, senhor Jaime", diz ele ao porteiro, que só se limita a abrir-lhe a porta enquanto lê as notícias do dia no seu jornal. Toma sua condução para ir até o escritório onde trabalha. Chegando lá, bate o ponto e senta-se na sua mesa. "Bom dia, senhor"; diz ao seu chefe, logo ao seu lado. "Preciso que você revise toda essa pilha de documentos", recebe como resposta. As 12 horas, sai pra almoçar no restaurante ao lado. Faz sua refeição, paga a conta e agradeceu ao garçom pelos serviços prestados. O garçom o olhou de forma espantada, mas sem nada dizer também. Voltara para o trabalho e, já de noite chegara em casa, tomara seu banho, comeu sua janta e, depois de ver tv por algumas horas, se dirigia para dormir.ao recostar a cabeça no travesseiro, sorriu. Sorriu de satisfação, se imaginara um herói. E ficou pensando consigo mesmo " Pobre daquele executivo e do meu chefe, eles vivem sobe pressão por metas o tempo todo que perderam a vossa humanidade nas relações com os outros. Aquela senhora idosa, já tão castigada pela vida que os sofrimentos lhe embruteceram o coração... e a senhora de meia idade parece estar indo no mesmo rumo. Ah aquele jovem estudante... tão novo e já tendo que lidar com a pressão pra passar no vestibular... o coitado deve estar tão sobrecarregado de coisas pra fazer que mal deve lhe sobrar tempo pra coisas triviais, ocupado com suas fórmulas, seus textos...Mais coitados ainda são aquele garçom e o senhor Jaime...porteiro e servente, profissões tão subvalorizadas que os tornaram invisíveis aos outros a ponto de sequer receberem um bom dia ou um muito obrigado...pobres pessoas embrutecidas de desumanizadas pela vida...". Sentiu-se extremamente feliz por ter feito a sua parte para tornar o dia daquelas pessoas algo mais humano. Dormiu o sono dos justos, daqueles dos heróis que fazem grandes coisas...afinal, em tempos rudes, ser gentil é um ato de grandeza de espírito.