IR NA ONDA

Prof. Antônio de Oliveira

antonioliveira2011@live.com

Ir na onda pode significar, além do sentido material, ir levado pela onda: ser levado pelos outros; não resistir, deixar-se levar pelas circunstâncias, ou acomodar-se a elas; ser enganado, cair na esparrela, deixar-se levar pelo fascínio da propaganda, do aliciamento, da sedução, do mando político, do poder, do prestígio, do enriquecimento fácil. E, em muitos desses casos, o fim passa a justificar os meios.

Num clima de corrupção institucionalizada, o Caixa 2 era visto como normal. Foi preciso o STF adotar o entendimento de que Caixa 2, apresentado como normal pela defesa de réus, é crime, é agressão à sociedade brasileira e que não se deve fazer vista grossa a esse tipo de desmando.

A humanidade sempre cultuou seus mitos, seus heróis, seus ícones, seus valentes fora-da-lei. Ser ladrão, em muitos grupos sociais da Antiguidade, era visto como prova de coragem. E de desprendimento, quando parte do roubo era destinada aos pobres. Credores de geral admiração, salteadores de estradas e piratas dos mares eram cultuados. Sobretudo quando o roubo era praticado de forma a deixar transparecer bravura, arte ou charme.

O povo então, fascinado, é useiro e vezeiro em se deixar dominar pelos políticos poderosos, façanhudos e autoendeusados, haja vista como se dá o voto obrigatório, num país de iletrados e carentes, denominado voto de cabresto. Uma multidão em festa presenciou Luís XVI e Maria Antonieta sendo guilhotinados em praça pública. Jesus foi condenado a pedido de uma multidão insuflada: – Crucifica-o! Crucifica-o!

Por outro lado, a pressão popular pode promover a justiça. Na Índia, quatro estupradores em crime seguido de morte foram julgados e condenados nove meses após a ocorrência. Ministro acusado de corrupção se mata, no Japão, certamente com medo das consequências. No Brasil, no entanto, o julgamento do mensalão se estende pelas calendas gregas. Entre nós parece que a justiça é que vai na onda dos poderosos...