VICENTE, UM GOLEIRO ARRETADO
Não existe nada mais marcante neste País do que o futebol. Ele arrebata milhões de paixões e corações por todo o mundo. Hoje mexe com o financeiro e até com a saúde social de uma nação, mesmo que seja ela de primeiro mundo ou não. Esta paixão futebolística foi sempre a marca registrada da minha cidade natal e de todos os seus moradores.
Certa vez narrei que nos idos anos sessenta, em Santa Maria da Vitória, as seleções de futebol de Barreiras, Bom Jesus da lapa, Correntina, Santana dos Brejos, Carinhanha, Cocos, Colônia do Formoso, Caetité, Itapetinga etc..... protagonizaram grandes jogos com a nossa seleção santa-mariense. Barreiras e Bom Jesus da Lapa foram os maiores adversários nossos e realizaram grandes prélios no nosso campo de barro argiloso na várzea na beira do riacho.
Além de grandes jogadores na chamada linha de frente, tínhamos um goleiro de cor negra, não muito alto, de olhar sinistro e penetrante e quando dizia: Quero ver quem é o corno que vai fazer gol em mim, era garantia de que atrás jamais iríamos sofrer gols. Se Dáda e Belonisio cumprissem com as suas tarefas lá na área adversária, a festa no Dois de Julho e no Bar Santa Clara era garantia de uma noite comemorativa.
Certa vez, em um certo domingo nas férias de fim de ano, a nossa seleção foi jogar bola contra a seleção de Bom Jesus da Lapa em Bom Jesus da Lapa e neste domingo, no qual a nossa seleção através dos seus astros, em uma tarde iluminada meteu 5 X 0 na nossa rival que no último jogo havia metido dois a zero na gente, em nossa cidade, catimbando e toda hora saindo de campo e nos afrontando. Acontece que neste domingo de luz total, nem o Bom Jesus da Lapa livrou a seleção Lapense de tomar esse chocolate.
Segundo a narrativa dos nosso jogadores quando foram recepcionados na Praça da Bandeira, tendo como palco o calçadão do Hotel Alvorada, logo que chegaram da cidade de Bom Jesus da Lapa, o goleiro Vicente tinha sido o nosso maior astro em campo. Parecia uma fera embaixo dos caibros que formavam a meta defendida por ele. Levou até chute na testa mas naquela tarde ele estava com o capeta ou melhor, até o capeta não conseguiria fazer gols na meta defendida por ele.
Aquela comemoração ali na praça, parecia comemoração de conquista de copa do mundo! Cada jogador que discursava, narrava uma peculiaridade da partida e nós torcedores mortais, aplaudíamos efusivamente e emocionadamente os nossos astros. Como sempre, Joselito e eu estávamos lá na praça da Bandeira assistindo aos nosso ídolos do futebol , como Nissão, Tutes, Dema, Beu, Marinho Campos, Dadá , Belonísio e outros que a memória teima em não deixar lembrar e o nosso grande goleiro, Vicente.
Vicente, como qualquer pessoa, gostava de tomar uns gorós pesados e como as pessoas que estão movidas a álcool podem aprontar algo acima do natural, numa destas tardes fagueiras ele, Vicente, estava nestes dias etílicos e ao receber alguma ordem, aliás não sei lá muito bem, o que de fato aconteceu! Só sei que segundo relatos, ele, Vicente, partiu pra cima do tenente Joaquinzinho com uma peixeira. O tenente Joaquinzinho era de uma estatura baixa, andava sempre de terno de cores claras, revólver na cintura dentro de um pequeno coldre, usava óculos redondinhos. Neste entrevero, o tenente Joaquinzinho tropeçou e caiu de costas no areão e para se defender, senão seria esfaqueado pelo Vicente, teve que atirar.
Este fato aconteceu entre o Jardim Jacaré, o riacho e o bar canecão que ficava à beira do Rio Corrente. Ainda as ruas naquele local não eram calçadas e havia um areão característico da região o que provocou o desequilíbrio do tenente Joaquinzinho. O goleiro Vicente, ferido no peito, foi socorrido à Casa de Saúde do Dr. Aziel e Dr, Aguinelito, resistiu bem aos ferimentos no peito que graças a Deus os projéteis ou projetil não atingiu o coração.
Depois que o goleiro Vicente recebeu alta da Casa de Saúde, ficamos sabendo que ele teria que sair da cidade, ir embora. Uma prática rotineira da época. Quem praticava certos delitos, ou ficava preso ou era expulso da cidade e isto aconteceu com o nosso grande goleiro: Foi expulso de Santa Maria da Vitória. Nós a garotada quando víamos o Vicente andando pelas ruas lá estávamos para vê-lo e nos despedirmos só com o olhar Finalmente ele se foi e nunca mais o vimos. Mas nas memórias de muitos, acho eu, as lembranças dele e de suas defesas ainda estão vivas como narradas pelo santa-mariense Joselino Rodrigues de Souza, testemunha ocular da história.
" Isso mesmo Joãozinho, eu estava lá e assisti ao jogo na cidade de Bom Jesus da Lapa e o craque Fernandinho, foi um dos responsáveis pela grande goleada de 5x0!
Teve muita confusão durante o jogo. Lembro-me que em uma dessas, o nosso Técnico, o saudoso Wilson Barros levou um soco no rosto, desferido pelo torcedor lapense cujo nome era Chagas.
O prélio foi uma batalha campal, más saímos com a alma lavada!!!!
Participou também do jogo, um rapaz sobrinho de Zezito o Edilson que mais tarde formou se em Medicina aí em São Paulo.
Após o jogo, ainda na Lapa, nos reunimos no Bar Tudo Azul, onde começamos a comemorar a vitória, como dizia, arrendamos o bar e começamos a consumir muita bebida etílica acompanhada das maiorias resenhas e lavagem da alma futebolística narcisista santa-mariense etc...
Quanto às comemorações em Santa Maria da Vitória eu não participei porque só retornei na terça-feira, gastando no retorno dois dias pilotando a lancha Jerusa Cristina, de propriedade do meu cunhado Vavá, pai de Jairo.
Saí de Lapa na segunda-feira, dormindo em Porto Novo e só cheguei a Santa Maria na terça-feira, notei a alegria e a euforia do nosso povo devido a grande vitória para o esporte santa-mariense, que ainda estava latente, afinal de contas a seleção de Bom Jesus da Lapa estava engasgada na nossa garganta há muito tempo.
Completando: O Edilson, sobrinho de Zezito, não marava em Samavi, mas estava aqui em pleno gozo de férias reforçando em muito o nosso time.
O Fernandinho foi o grande craque do Vila Nova(Go) também jogou no Santos Futebol Clube em 1974 ao lado de Pelé e no Fluminense (Rj) e sempre que estava de férias do futebol, vinha para Santa Maria visitar os parentes aqui, sendo um outro grande reforço para a nossa seleção, naquela partida memorável em Bom Jesus da Lapa.
O Zé Teodoro ( que jogou no São Paulo Futebol Clube nos anos 1980,) e Gilson, (que Jogou no Mixto (Mt) são irmãos de Fernandinho, que também foi comentarista esportivo em Goiânia; saliento que Dadá, que permaneceu em Santa Maria e não ingressou no futebol profissional, era considerado o melhor de todos, e é inegável o dom da família de Adolfo Queiroz para jogar futebol!
É o que há.