Assim

Queria escrever sobre o lado bom da velhice mas concluí, rapidamente, que isso não existe. Nem corpo nem memória. Com sorte os olhos ainda são capazes de ver coisas que mais ninguém vê e que só podemos dividir com netos crianças. As nervuras de uma folha, olha que linda à luz; a pele das maçãs vermelhas, repara como nenhuma é igual a outra e estas formigas? Já reparaste como parecem ter a certeza do caminho? Agora sente como é bom fazer um carinho ao musgo e como este céu tem imagens verdadeiramente notáveis. Tudo, menino, é magnífico quando aprendemos a olhar. Até o orvalho. Repara como cada gota de água pode espelhar o mundo. Fim do intervalo. Agora é mais só conosco. A dor no joelho, a falta de forças, o saber que a saúde tem tendência a piorar. Podemos, sempre, olhar para trás mas sentimos que as histórias já se misturam, que os rostos se diluíram que, se ainda é cedo para morrer, começa a ser tarde para viver. Vale a pena pensar. Sair da quietude deste banco e correr, sim correr até te encontrar, outra vez, no tempo em que não te conhecia mas já te amava. E, depois, sem esforço, sentir que me queres e me abraças mesmo que já não estejas.

Edgardo Xavier
Enviado por Edgardo Xavier em 15/10/2013
Reeditado em 17/06/2015
Código do texto: T4526442
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