O SOFRESSOR E O CELULAR: ZEFINI.
Por Carlos Sena

 
O dia do Professor um dia será. Porque por enquanto ele funciona mesmo como reflexão acerca dele, como mentor do conhecimento e acerca do que poderia ser ele, se o país lhe desse o devido valor. Por isso, prefiro dizer que hoje é dia do SOFRESSOR. Nesse diapasão de inversões de papeis nunca será demais, neste dia, relembrar e refletir. Primeiro acerca daqueles que, vestidos de professor, são travestidos disso, porque por não encontrarem emprego em outra área vão fazer “bico” na educação, principalmente na de ensino fundamental e médio. Isso é péssimo porque a pior educação é aquela que se processa às avessas, ou seja, deseduca quando passa para os alunos preconceito, desamor, ingratidão, revolta, etc. Outro foco dessa insatisfação é a questão salarial que reduz os bons professores ao desespero que é viver sem a dignidade de, no mínimo pagar suas contas para poder viver com dignidade e, assim, passar dignidade para os alunos. Como se não bastasse, certos pais funcionam como problemas para os professores, pois entregam a eles, na escola, o papel que em casa deixa de ser feito por eles na condição de pais e mães. Dentre tantos, há ainda o CELULAR. Ser professor nestes tempos infestados pela praga do celular é, com certeza, agudizar o termo SOFRESSOR. Administrar celular em sala de aula, possivelmente, será mais uma matéria curricular nos centros de formação acadêmica de professor, alguém duvida? Porque os pais e as escolas não encontram formula de disciplinar isso sem que melindre os pais que, pelas incompetências deles, mantêm os filhos com celular no papel de “coleira eletrônica”. Ao pobre “sofressor” – aquele que já fica de goela seca pedindo silencio em sala de aula, agora vivem pajeando celular, pois quando o aluno não está passando mensagem, está cochichando nele, ou está jogando nele, ou simplesmente está... Nele! Não no assunto que o “sofressor” esteja ministrando em sala. Qualquer atitude do mestre em desacordo, logo vem o pai, ou a mãe ou os dois e ameaçam o coitado do mestre: “quem paga seu salário sou eu” (no caso de escola privada); “vou falar com fulano ou sicrano pra lhe transferir daqui” (no caso de escola pública) e por aí vão as ameaças, sem contar com as violências diárias dentro e fora da sala.
Nunca será demais, neste dia, refletir. Porque apesar dos pesares, ser professor é uma das mais dignas profissões do mundo, porque só ela (salvo engano) poderá levar as pessoas a desenvolver um pensamento libertador. Não bastassem tantos obstáculos, ainda temos a controvertida dicotomia entre pedagogia moderna e antiga que, a rigor, não se justificam. Temos também o mundo lá de fora cheio de valores frouxos definidos pelos veículos de comunicação sociais, principalmente a TV.
Para finalizar, uma experiência vivida por uma professora de francês no Recife, vale a pena ser lembrada: de repente uma conceituada professora de francês se vê chamada atenção pelo seu próprio filho. A criança, diante de sua mãe que sempre utilizava a expressão C’est fini lhe disse: “mamãe, não é C’est fini, mas ZEFINI” – referencia a um antigo bordão do professor Raimundo em sua escolinha, lembram? E a coitada de professora, até onde sabemos, não conseguiu convencer seu filho que o errado era o "Professor" Raimundo, não ela, pode?