A Alma Morreu
 
            Existe um ¨elemento¨ que constitui parte essencial do ser humano e que se encontra abandonado. Trata-se da Alma que, parafraseando Nietszche, está morta.
            Qual o regime político-econômico-social que prega a ascensão moral e espiritual do homem buscando torná-lo melhor? Dirão, com judicioso e soberbo saber, que não compete a tais mecanismos cuidar do ¨espírito¨ do homem. Esse papel caberia às Religiões. No entanto, ao que nos parece, essas também, atualmente, cuidam muito mais de promover o progresso material aos ¨eleitos¨ do que estimular uma verdadeira busca espiritual.
            Nesse cenário, em que não temos Religiões, nem Sistemas e nem Filosofias que atendam ao Espírito, tratamos de matar a ¨alma¨.
            As consequências desse ¨assassinato¨ percebemos em nosso dia-a-dia violento, estressante, melancólico e suicida. As grandes cidades são núcleos coletivos de uma crescente loucura. Assim como no ¨Ensaio Sobre a Cegueira¨, de Saramago, éramos todos contaminados por uma cegueira branca, nossa coletividade contamina-se por uma força aterradora que também nos cega para os fundamentos de uma existência feliz. Aonde vamos colocar mais carros? O que fazer diante dívidas que se acumulam? Será que ninguém mais percebe as perturbações climáticas? Trabalha-se tanto, perdendo mais de 12 horas por dia no trabalho e no trajeto deste para se alcançar o quê? Dia desses vi a triste notícia de um casal que morreu atropelado no trânsito para pegar um ônibus querendo voltar para casa. Seu desespero não lhes permitiu ¨ver¨ o veículo que se aproximava em alta velocidade. Atesta-se, assim, que estamos perdendo o referencial dos valores essenciais à vida. A Sociedade Mundial caminha, principalmente no Ocidente, a passos largos para o aniquilamento.
            Lutamos para sustentar um ¨Sistema¨ que  estende na forma de um mísero salário ao final do mês, uma espécie de ¨cenoura¨, para que o ¨jumento¨ continue a puxar a carroça. Trabalhando tanto, perdendo tantas horas de vida no trânsito, ficamos ao final cansados demais para reclamar a nossa ¨alma¨ de volta. Foge-se para as alegorias novelísticas e dorme-se na ilusão de termos em nossos sonhos a presença daqueles deuses e deusas globais.
            Como consolo, nos fins-de-semana, procura-se por uma Religião que prometa a vitória a quem abraçar esse ou aquele profeta. Gritam-se hinos fervorosos, bate-se no peito, depois, junto aos amigos, vamos a um clube ou bar e, bebendo uma cerveja, sentimo-nos vencedores e merecedores de mais um trago aniquilador.
            Estamos sempre fugindo para algo, mas nunca buscamos o encanto de um Reino de Paz que se aloja dentro de nós mesmos.  O ¨barulho¨ do mundo e nossas ilusões não nos permitem seguir em outra direção. Não sei para onde essa humanidade caminha, mas somente sei que entre uma Segunda e outra, a alma já não existe mais...

(Jurandir Araguaia é escritor goiano, ex-fiscal-ambiental/Goiânia, Auditor Fiscal/Go, palestrante motivacional espiritualista e formado em Ed. Física e Adm. de Empresas)