PARADOXOS AMBULANTES
Prof. Antônio de Oliveira
antonioliveira2011@live.com
Mudar de ideia pode ser um ato de discernimento. Contudo, “est modus in rebus”, lembra o poeta latino Horácio. Em todas as coisas há uma medida. Ou, traduzindo no popular: tudo tem um limite. Quando menos se espera, há pessoas indo longe demais. Quando não somos nós mesmos!
Mudar de opinião de acordo com o nosso interesse não é sabedoria, mas esperteza. É comum um líder estar imbuído, ao mesmo tempo, de ideias novas e de conservadorismo, proferir discursos contra o racismo e ser racista, na prática. Tive um colega, advogado, cujo pai, médico, fumava e bebia sem moderação. O filho, então, quis lhe fazer ver que era uma contradição, uma vez que ele, médico, aconselhava a não fumar e a não beber em demasia. Aí ele respondeu: – Não existe contradição, como médico eu aconselho; mas eu não sou o paciente... Cá pra nós, um sofisma bem bolado.
Por falar nisso, sofisma é uma falsidade com aparência de verdade. É como o nome daquele biscoito: “parece mas não é”. Golpe com rótulo atraente. Também no popular: engano, tapeação, maracutaia. E é o que mais tem. Vira-casaca, por exemplo, troca de partido ou de ideias de acordo com as conveniências pessoais. É mais ou menos aquela história de varrer a sujeira para debaixo do tapete. Levo vantagem? Esqueça o que eu disse. Ou: Eu disse isso?
O demagogo faz de conta que tudo o que ele diz e faz o é em nome da democracia, em benefício do povo, por amor às pessoas. Usa de medidas assistencialistas, não necessariamente promocionais. Dá o peixe, mas não ensina a pescar. É que essa tática funciona eleitoreiramente. E isso quando ainda há eleições diretas. O voto de cabresto não deixa de ser fruto de sofismas, sofismas frequentemente acompanhados de ameaças veladas, quando não explícitas. Em suma, o bicho homem, incluindo aqui a mulher, não deixa de ser complicado, imprevisível, capaz de tudo. A tantas definições de ser humano eu acrescentaria esta: somos paradoxos ambulantes.