Os Gnomos de Jardim

Em fila indiana andavam cabisbaixos os gnomos de jardim. Estavam irrequietos. Correntes pesadas prendiam seus pés. Um gigante de quatro olhos segurava as correntes.

O gigante não tinha orelhas e não escutava, mas enxergava tudo e muito bem, com aqueles grandes olhos esbugalhados, mas azuis, bem azuis. Na cabeça do gigante, cada olho ficava num lado da cabeça: um na frente, outro atrás, e um no lugar de cada uma das orelhas dos humanos normais. Os gnomos de jardim não tinham como fugir sem serem vistos. Na boca do gigante, só um dente. Na outra mão ele segurava um enorme tacape de pedra.

Os gnomos de jardim andavam sem saber para onde.O gigante também não falava, só resmungava. O caminho no meio de montanhas assustadoras e tenebrosas era cheio de pedras. Para ajudar, nuvens pesadas escureciam o céu. As árvores verdes e frondosas olhavam os gnomos de jardim. Olhos famintos. As árvores suculentas tinham medo do gigante de quatro olhos com o tacape de pedra na mão.

O caminho no meio da floresta termina numa enorme montanha de pedras lisas e coloridas. Os gnomos de jardim param. O gigante de quatro olhos bate na pedra com seu tacape. Três batidas pausadas e leves, a quarta batida e última é forte e estrondosa. Os gnomos de jardim vislumbram quando da montanha uma luz começa a surgir, e uma porta começa a se abrir.

A porta abriu, uma luz branca surgia de dentro da montanha de pedras. O gigante grunhiu e apontou com a mão para onde a luz saia. O gigante tirou as correntes dos gnomos de jardim. Os gnomos de jardim se olharam, e pensaram em fugir correndo. O gigante de quatro olhos percebeu e soltou um grunhido medonho batendo com o tacape no chão. A ideia de fugir fora descartada imediatamente pelos gnomos de jardim, e foram entrando devagar pela porta. A porta fechou atrás deles. O gigante de quatro olhos não entrou.

Uma enorme e gigantesca mesa chamou a atenção dos gnomos de jardim, detalhes e símbolos desconhecidos estampavam a madeira. Levaram um susto quando surge por detrás da mesa uma leoa com uma juba enorme, ela usava óculos e um chicote no formato de cobra na cintura. E disse num tom firme e seco:

- vamos, estão esperando o que? Vão ficar aí parados? Comecem a trabalhar e retirem todo o ouro encrustado nas paredes!!!

Os gnomos de jardim viram um monte de picaretinhas e baldinhos. Os gnomos de jardim começaram o trabalho difícil, árduo e cansativo de tirar ouro das paredes. Paredes enormes. O ouro estava espalhado nas paredes como estrelas no céu. Trabalho penoso para os gnomos de jardim, acostumados a brincar livres, leves e soltos pelos coloridos jardins das terras encantadas, cheio de flores e pássaros que voavam livres pelo céu azul e sol quente.

Trabalho chato para os outrora alegres gnomos de jardim, sempre tagarelas e brincalhões.

Um burburinho e um cochichar entre os gnomos de jardim começou a se ouvir. Mas foi breve.

- SHHHHHHHHH!!!!..... PÁ!!!!!!

Um barulho ensurdecedor do chicote, imitando no início um chocalho de uma cobra e depois um estalo, fez o burburinho parar. O chicote passou raspando as orelhas de alguns gnomos de jardim espalhados pela montanha cheia de ouro.

De repente, uma correria desvairada dos gnomos de jardim. Um dos gnomos de jardim ao retirar uma pedra de ouro voou uns 10 metros. Jogado pela pressão da água represada atrás da montanha de ouro. Muita água, que começou a inundar todo recinto. O alarme começa tocar o alarme loucamente e os gnomos de jardim correm desesperados... Rebuliço, algazarra, correria.

A montanha de pedras tinha alarme de inundação?

Não tinha alarme. O sinal para o recreio tocou, a imaginação fez os gnomos de jardim sumirem, a inundação também e novamente éramos os alunos do primário que corriam para ficar na fila da merenda. A biblioteca ficava ao lado da cantina.

A garotada sempre preferia a bola, mas naquele dia além do professor não estar presente, a aula de educação física foi na biblioteca, pois estava chovendo e não tinha como jogar bola nas quadras de cimento.

Primeira vez na nova biblioteca, minha aventura chegou ao fim naquele dia, mas fez surgir o gosto pela leitura.

Lembro-me de um livro grosso e grande que ficou aberto em cima da mesa naquele dia quanto tocou o sinal para o recreio. No livro imagens gigantes e coloridas de cachoeiras hoje extintas: salto de sete quedas (foi a maior cachoeira do mundo em volume de água, ela desapareceu com a construção e formação do lago da usina hidrelétrica de Itaipu). O livro sobre sete quedas não sei se existe ainda, mas lembro de vários outros livros da minha infância, principalmente da coleção vaga-lume. E quem não lembra?

Juvenal Tiodoro
Enviado por Juvenal Tiodoro em 14/10/2013
Código do texto: T4525155
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