UMA ÁRVORE CHAMADA ESPERANÇA
Em meio ao cinza do centro de São Paulo, respira o Ibirapuera. Mais que um parque, é do centro de Sampa, o pulmão.
Costumava meditar em seus gramados e era lá que morava uma amiga que cedia gentilmente sua sombra para as minhas leituras e escritas, carinhosamente a apelidei de Dona Esperança.
Ela era uma árvore velha, diziam que tinha mais de 100 anos. Suas raízes se esparramavam ora embaixo, ora em cima do gramado e em seus troncos estavam pichados nomes de casais e palavrões. Os moleques costumavam se pendurar em seus galhos, o que me atrapalhava às vezes, mas como Dona Esperança nunca reclamava quem era eu para dizer alguma coisa.
Li muitos livros legais sob sua sombra e foi por lá que escrevi a minha primeira declaração de amor à minha esposa.
Meditar ali era sempre um prazer e em certos dias, a gente até batia um papo. Eu a agradecia pelo oxigênio e pela sombra e ela me agradecia por ter tempo de conversarmos com ela.
Gente, que tardes agradáveis passei por lá. Todo dia claro era desculpa, para arrumar um tempinho e ir até o parque.
Meditando, lendo, escrevendo ou apenas descansando, fui começando a nutrir um grande afeto por aquela velha amiga e ela o mesmo por mim.
Apos algum tempo fora dos pais e da cidade, retornei a São Paulo e ao parque pulmão, e procurei ansioso por Dona Esperança, mas só encontrei o tronco pichado e cortado no lugar onde minha amiga morou por mais de 100 anos.
Lembrei com nostalgia de nossas tardes e amizade, e lamentei sua ausência.
Consolei-me com a cena imaginaria de sua morte por um raio ou qualquer outra obra da natureza para sua partida; mas ao ver um homem jogando a lata de cerveja no lago, mesmo com o lixo a poucos metros, fez com que eu sentisse vontade de chorar e começasse a desconfiar de outras causas mais humanas para o desaparecimento de minha amiga, porém insisti com a idéia de raio na cabeça e com a fé nos homens apesar da Dona Esperança ter sumido e da lata que junta a outras tantas descansa no fundo do lago do parque.
"Quando uma árvore é cortada ela renasce em outro lugar. Quando eu morrer quero ir para esse lugar, onde as árvores vivem em paz” (Tom Jobim)