Eu tenho tanto!

Embora materialmente não tenha acumulado nada ao longo da vida, tenho

mais é que agradecer! Tendo vindo de um lar destruído, abandono do pai

que deixou a família quando eu era ainda um bebê, tendo experimentado tão cedo a dor dessa palavra abandono que minha mãe, por ignorância repetia aos meus ouvidos infantis, dizendo que ele havia ME abandonado e sem saber me causava tanta dor emocional...

Ah o que mais posso querer se tenho pessoas a quem se eu pudesse daria vida eterna? Agradeço a Deus por ter aprendido a amar, por me sentir amada, por estar viva apesar das dores que a vida me apresentou desde cedo! Só posso dizer que Jeová Deus, por meio de cristo me proveu amparo e proteção a vida toda. Meu pai, bem ele por escolha,

resolveu reescrever sua história sem pensar nas quatro letras que já

existiam, 4 filhos. Constituiu família nova, teve outros filhos e vive a vida dele do jeito que pode, nunca construímos nada de pai e filha.

Nossa relação se resumia a um bença pai costume da região onde nasci. Em uma época comemorativa ele nos mandava um presente: um pão doce em formato de jacaré que nossa mãe nos proibia de comer no "dia santo" pelo fato de ele,meu pai, ser "amancebado". Depois podíamos comer...rsrs Não foi fácil para minha mãe, só hoje posso entender melhor, lembro de inúmeras vezes tê-la visto chorar sem dizer o que lhe causava dor. Nos criou trabalhando na roça, sozinha, debaixo de preconceito e ignorância de parentes que diziam que filhos sem pai virariam bandidos e quengas. Felizmente nenhum de nós aderiu a esses

ofícios, graças a Deus. Hoje minha mãe já dorme na morte, depois de uma vida tão sacrificada por nós, nunca quis ter relacionamento amoroso com ninguém embora fosse relativamente jovem. Dizia que jamais admitiria ver um homem nos maltratar como padrasto.

Ah como a entendo hoje! Saí de casa cedo, não voltei mais a não ser para uma breve visita, casei-me aos vinte anos e só voltei à casa que abrigou minha infância 23 anos depois de ter ido lá pela última vez, mas a casa já não era a mesma, não havia mais minha mãe me convidando para entrar, me oferecendo sua comidinha e rindo pra mim.

Doeu. Sinto saudade de tanta coisa, até de coisas não tão boas.

Como um dia que depois de ter feito-a ficar zangada comigo, corri e subi numa árvore para escapar da correção e ela passou por baixo

esbravejando e eu morrendo de rir em cima, tampando a boca para ela não descobrir que eu estava ali... Isso que dá ficar em casa sozinha um fim de semana inteiro, essa saudade malvada vem me visitar.

É a vida...