ALICE MUNRO - PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA 2013 - REAÇÕES DE ALGUNS LITERATOS À PRÓPRIA PREMIAÇÃO

Alice Munro, escritora canadense, há anos aparecia fortemente indicada a ser agraciada com o Prêmio Nobel de Literatura. Foi considerada pela Academia como “uma mestre do conto contemporâneo”. O estilo claro e o realismo psicológico de seus contos levaram alguns críticos a denominá-la “a Tchekhov canadense”. Eles são ambientados em pequenas cidades, apresentam relações tensas e conflituosas de personagens, os quais lutam por condições aceitáveis de vida.

A premiação do Nobel leva a diferentes reações dos que são detentores desse título e essas reações são o foco desta crônica. Premiada pela Academia Sueca com o Nobel de Literatura de 2013, Alice Munro declarou que ganhar o prêmio é “maravilhoso” e que o fato de apenas treze mulheres terem sido agraciadas com ele a deixa triste. Enfatizou: “como é possível isso? Isso é atroz!”

Pouco depois do anúncio de sua premiação, expressou sua gratidão e afirmou “estar muito assustada e agradecida, mas que não pensa em voltar a escrever novamente”, dizendo-se cansada, aos 82 anos de idade.

Demonstrando personalidade modesta, dividiu a alegria do prêmio com os canadenses, esclarecendo que espera que o fato atraia mais atenção à literatura de seu povo.

A biografia de Alfred Nobel diz que ele foi um homem solitário e pensativo e que viu alguns abusos cruéis e sangrentos de suas invenções. Talvez tivesse previsto o resultado catastrófico de algumas de suas experiências e, por isso, tenha feito esforço para encontrar um controle, um jeito de salvaguardar a segurança da humanidade. É possível que o tenha encontrado na mente e no espírito humanos.

Isso parece ser revelado na categoria dos prêmios, que contemplam o fortalecimento do conhecimento dos homens, as demonstrações de capacidade da paz e para a comunicação e a compreensão, que são funções da literatura.

Dentre os contemplados por essa premiação, alguns fizeram declarações tão contundentes, quanto surpreendedoras.

Bertrand Russel, por exemplo, (Nobel de literatura de 1950) no discurso de entrega da premiação, afirmou ser necessário fazer um exame psicológico, pois achava muito fácil a pessoa enganar-se quando se defronta com a aparência de nobreza e que a inteligência deve ser incrementada por métodos de educação. Sua premiação deveu-se à luta por ideais humanitários e pela liberdade de pensamento, insistentes em seus escritos.

François Mauriac, (Prêmio Nobel de 1952) abriu sua alma ao ser premiado e informou aos presentes que era um romancista desprovido de esperança e que, repentinamente, viu-se amparado por ela, pois que foi essa esperança que traçou um risco de fogo nas trevas que descreveu. Assim, acabou revelando o segredo de seus tormentos, através dos tormentos de seus personagens, o que, enfim, trouxe-lhe a paz.

Albert Camus (Prêmio Nobel 1957), em cujos escritos tratou de amor, ética, justiça, humanidade e política, quando do recebimento de sua honraria, externou gratidão, entretanto deixou claro ser um jovem dominado pelas dúvidas e que, naquele momento, estava sentindo-se desamparado e ofuscado por tornar-se tão evidente. Mostrou-se um tanto envergonhado e confuso interiormente, pois dizia sentir-se desconfortável, enquanto sua pátria estava entregue a uma tragédia e sofria pelo fato de outros escritores europeus estarem silenciados. Em nome da gratidão, explicou não lhe ser possível viver sem sua arte, mas que ela jamais estava acima das pessoas ou à parte delas. Disse, ainda, que não era um pregador de virtudes e que recebia o prêmio em nome dos que só conheceram a infelicidade e as perseguições e com eles o compartilhava. Agradecido, prometeu fidelidade a cada dia.

John Steinbeck (Nobel de Literatura em 1962) Disse sentir-se orgulhoso e agradecido à academia Sueca, contudo declarou que, para ele, o melhor seria que considerassem as obrigações e responsabilidades dos escritores literários. Lembrou que a literatura surgiu da necessidade dos homens e que ela tornou-se maior, quando a necessidade fez-se maior. Dessa forma, o próprio homem tornou-se o maior risco do escritor e única esperança.

William Faulkner (Nobel de Literatura de 1949) afirmou que apenas considerava válido escrever sobre o coração humano em luta consigo mesmo, pois ele sabia que a compreensão e a decisão do medo são, em grande parte, a razão pela qual o escritor existe.

Miguel Angel Astúrias (Nobel de Literatura em 1967) garantiu que a palavra e a linguagem levam o leitor a partilhar da vida da literatura e que nada deve ser para desvirtuar o homem e, sim, para completá-lo com valores mágicos e profundo conceito humano.

Heinrich Böll (Nobel de Literatura em 1972) ao receber o prêmio, manifestou que a arte e a literatura continuam sendo um bom esconderijo para bombas espirituais e para detonadores sociais.

Pablo Neruda (Prêmio Nobel de Literatura em 1971) anunciou não ter encontrado em parte alguma, em livro algum a receita para compor poemas e que, também, não ousaria deixar fórmulas. Explicou que durante sua vida sempre viu em algum lugar a receita que o aguardava para explicar-se a si mesmo e que não sabia as lições que aprendeu. Sabia apenas que a solidão é absoluta e que todos os caminhos levam a comunicar aos outros o que é a pessoa e que o poeta não é um “pequeno deus”, que “o melhor poeta é o homem que entrega o pão de cada dia”. Acreditava na profecia de Rimbaud: “somente com paciência ardente poderemos conquistar a cidade esplendorosa, que dará luz, justiça e dignidade a todos os homens”, para que sua poesia não fosse inútil.

A Academia Sueca definiu os contos de Alice Munro, nos quais inclui fatos cotidianos e, ao mesmo tempo decisivos, como uma “espécie de epifanias que lançam luz sobre a narrativa que as cerca e permitem que questões existenciais apareçam, de repente, como iluminadas pela luz de um relâmpago, seguindo a ideia de François Mauriac. E Alice, assustada com a notícia de sua premiação afirmou: “ainda estou atordoada”, conforme palavras dela, até o dia anterior não sabia que estava na lista dos indicados.

As reações de cada literato, ao receber a premiação, são diferentes entre si, todavia todos revelam gratidão e ensinamentos dignos de verdadeiras lições de vida e de arte Literária.

13.10.13

22:06

Dalva Molina Mansano
Enviado por Dalva Molina Mansano em 13/10/2013
Reeditado em 13/10/2013
Código do texto: T4524030
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