Palavras...
Sempre achei muito útil ser o que eu me interessasse no momento, ou melhor, o que eu interessasse a outra pessoa, porque o que me interessa acho que nem eu mesmo conheço.
Era ótimo não estar sozinha entre os outros. Olhar para o lado e ver no outro, apenas outro reflexo de mim. Na verdade acho que o que eu via não era um reflexo, na verdade o outro não era nada. E a vida vinha.
A vida vinha... mas não passava. As pessoas não me serviam mais, decidi que tinha que escrever.
Tentei colocar em palavras durante muito tempo. Mas às vezes, palavras são apenas, palavras. Talvez eu seja louca por querer substituir as ideias por palavras, mas as ideias não cabem numa folha. Um sábio uma vez falou coisas bonitas que não entendi muito bem sobre as ideias. Esse mesmo, uma vez disse que cometer injustiça é pior para a alma humana do que recebê-la. Talvez tal opinião seja a mais bonita e direta. Não sei se concordo. Para falar a verdade, não sei colocar em palavras opiniões sobre coisas tão bonitas e transcedentais como a alma, a verdade... Essas questões importantes mesmo, sabe? Tudo o que eu consigo falar é simples, referente à minha vida, à minha lembrança. A mim mesmo.
Sinto que minhas palavras não chegam ao que eu quero, só arranham a questão.
Mas como ia dizendo, me pergunto agora se o sábio estava certo: o que faz pior para a alma? Cometer a injustiça, ou sofrer uma? Não sei, espero ter a resposta até o fim das palavras.
Um tempo atrás eu tinha esse hábito de depender muito dos outros. E como era bom. Viver sob os olhos dos outros... faz a gente não precisar pensar se tem algo dentro da gente que vive. Algo nosso mesmo. Pelo menos eu não pensava sobre felicidade. Me falavam que eu era feliz, e isso era o suficiente. Se pareço feliz, devo ser feliz, não é mesmo?
E veio o silêncio.
E no reflexo dos olhos de alguém, finalmente me vi. Mas o que vi, não foi mais o que via nos olhos dos outros. O que eu via nos olhos dos outros era só o que parecia ser eu. O eu mesmo.
Eu sei que tinha alma quando me via nos outros. Minha alma estava naqueles olhos. Depois daquele dia tentei em um espelho qualquer procurar aquela alma nos meus olhos, mas não vi nada.
Hoje, continuo não vendo. Talvez os outros não tenham alma também? Não sei, cabe a eles decidir. Só sei que não me vejo mais neles. Não procuro mais nos olhos deles.
Só sei que não procuro mais alma. Em lugar algum. Seja em mim, seja fora.
Sei que a vida veio. E não vai de jeito nenhum.