O sono não veio apesar de toda a preparação. Um banho morninho, roupa fresquinha, lençois já amaciados pelo tempo, travesseiro de pluma... Cenário perfeito para uma noite de descanso, mas fazer o que se o ator principal não apareceu. O sono não veio. Pouco importou a produção... Sem sono lá vem aquele monte de pensamentos inadequados para uma noite sem lua. E o que me resta? Escrever... Meu vício é você.
Mas, exatamente sobre o que? Geralmente as idéias me vêm à cabeça aos borbotões muitas vezes nas horas mais absurdas. Pense aí. Vou ao banheiro fazer uma necessidade fisiológica e o que me vem à cabeça? Um verso. Mas, pensando bem, isso são horas de pensar nisso? Melhor seria me concentrar no feito e logo encerrar o assunto. Mas, vejamos, não é sempre que essa tal de inspiração acontece. Melhor aproveitar ou ela vai embora, quem sabe para nunca mais voltar. Já pensou que loucura, eu seca sem nada para escrever? Deus me livre.
Mas, o silêncio da noite é um convite irrecusável para manchar esse papel com essas letrinhas. E é o que faço. Quase sem pensar, de maneira maquinal vou escrevendo, escrevendo, sem nem ao menos ler o que está saíndo. O escrever torna-se uma necessidade quase fisiológica e precisa ser obedecida. Não há como fugir ao apelo, e, obedeço. Certamente o que estou escrevendo só eu lerei, mas terá cumprido a missão, desafogar minha cabeça abarrotada de letras.
Mil assuntos me vêm à cabeça, mas não é preciso. Amanhã acordarei certamente, o sol estará brilhando mais uma vez e virei novamente escrever. Talvez seja um poema desses bem melosos que me acometem algumas vezes. Quem sabe será fantasmagórico ou tenebroso falando de solidão, abandono, tristeza. Afinal, a vida não é assim? Um dia luz, no outro treva, um dia riso, no outro pranto.
Espero que amanhã eu escreva alguma coisa que preste, porque hoje, sinceramente, não vale ler. E, se você chegou até aqui é que realmente não tem mais nada de melhor a fazer. Mesmo assim, obrigada pela compreensão. Prometo recompensa-lo. Boa noite.