MEU RECANTO

A sala tem dimensões normais, não tão grande, porém tampouco pequena. Um sofá creme, a poltrona marrom, TV tela plana de 40 polegadas, a mesinha de centro colocada na extremidade direita com um abajur na forma de antiguidade e uma orquídea de plástico. Sobre o móvel onde se encontra a imensa TV, recordações de viagens internacionais, como a miniatura da Torre Eiffel, do Cristo Redentor, do casal dançando tango, do galo de Portugal e outros, além de revistas cuidadosamente arrumadas num espaço a elas dedicados. A mesa com seis cadeiras toma conta de ampla área e se encontra perto da parede onde desenharam uma amedrontadora rosa amarela circundada por folhas esverdeadas quase invisíveis.

À direita, começa a cozinha com toda a sua parafernália necessária à gastronomia cotidiana. E lá estão a geladeira duplex, o fogão quatro bocas, os armários feitos sob encomenda, uma mesinha americana com tampo de vidro. Ao lado esquerdo dela, o bebedouro com água mineral, a lavanderia, um armário e a máquina de lavar roupas. No alvo e imaculado teto dessa área de serviço, um pequeno vara amarrado com finas cordas de náilon. A máquina de lavar louças está bem próxima do bebedouro, à direita da janelona por onde entra constante ventania e muita poeira fina que invade o apartamento de maneira quase imperceptível.

O corredor, ao fim do qual um espelho vertical de boa proporção dá a impressão de ser bem maior do que na verdade é, leva ao primeiro banheiro, para uso social, e a uma suíte para receber e hospedar amigos e familiares em visita, à direita, e ao escritório e à suíte principal, à esquerda. No escritório fica a biblioteca, a escrivaninha sobre a qual descansa o computador, quadros e fotos nas paredes, revistas um tanto jogadas de qualquer jeito e algumas bugigangas sem graça. Já a suíte principal tem um trato especia e pessoal, cama box confortável, alta, criados-mudos onde repousam vidros de perfume, pomadas diversas, cremes hidratantes e umas poucas bijuterias compradas pelos países estrangeiros e em cidades brasileiros visitados. O banheiro é limpo e perfumado, estando separado da área de banho por um box. O espelho sobre o lavatório é retangular, acima do qual se destaca a arandela estilo moderno, e as paredes são pintadas de branco-neve, dando um aspecto de alvura quase de nuvens.

Os janelões se abrem para lindas e maravilhosas vistas em todos os cômodos do apartamento. Os campos dos cerrados protegidos pela Aeronáutica se mostram através dos vidros brilhantes das janelas abertas na sala, bem como, lá adiante, os prédios da Rota do Sol, e ao longe, bem longe mesmo, a silhueta de edifícios localizados na Praia de Cotovelo. Daqui, ao amanhecer, é possível admirar o mais lindo nascer do sol da cidade e esse mesmo alvorecer também pode ser vislumbrado da suíte principal. No tocante às janelas da cozinha, de lá se vê a beleza do por do sol ao crepúsculo, mas antes que isso aconteça, voltamos o olhar para os coqueirais do condomínio e para uma ruazinha movimentada ao lado, triste e melancólica, apenas calçada irregularmente, rasgada pelo calor solar. Do quarto de hospedes temos outro ângulo desse mesmo ocaso pintado pelas cores do sol que adormece para a chegada da noite.

Assim é o apartamento onde moro, minha Passárgada, o lar de minhas magias, o universo do meu eu em expansão.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 12/10/2013
Código do texto: T4522212
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