A Voz do Místico
A voz do místico não é apressada, alta, titubeante; soa serena e precisa como um diapasão; de tanto calma e melodiosa, parece um violoncelo distinto e reconfortante. Nela, a serenidade ora se concentra, ora sorri. Sua voz nem faz, nem aprecia o barulho; aguarda o momento para sair do silêncio, convincente e convencida de que está sendo escutada. Esses detalhes são apenas características que a distinguem das vozes comuns e incomuns. Mas, o importante é o conteúdo que ela anuncia, caso esteja diante de si uma pessoa ou uma multidão. Nas horas vagas, o místico trabalha como relojoeiro da cidade; jamais deixou relógio sem trabalhar, com incrível habilidade repõe minúsculas peças no complicado sistema das horas.
A roupa do místico é branca, totalmente branca, se não fossem a poeira do vento e a sujeira do piso onde se senta para ficar em pé a sua voz. Contudo, jamais se vestiu com qualquer variação do branco, deixando as cores para as coisas da natureza que tanto ama. Como se fosse sua segunda roupa, também branca é a sua casa, mais ainda o seu quarto, onde dorme, no chão, poucas horas da noite. Na cozinha, prepara seus chás e guarda pão e alguns frascos de semente; na sala, recebe curiosos e pessoas que se dizem carentes da sua palavra. Corre fama de que sua voz é milagrosa, mas nunca ele fez um milagre. Contesta ele que o milagre é feito por aqueles que o escutam, eles próprios curam suas feridas e males, ao transformarem suas vidas.
Mantém poucos pertences que, enfim, não são seus, tão grande é seu desprendimento. Certo dia, estava a meditar, quando um desconhecido entrou até à cozinha e furtou uma panela de barro, a quartinha d’água e uma porção de feijão; o místico tudo viu sem manifestar reação e continuou a refletir no sentido da vida. Come do que planta no quintal da casa e de onde alguns também colhem, sem dar satisfação, verduras, hortaliças, frutas como se fossem remédios que curam doenças ou preservam a saúde; ele se contenta com o mínimo e, assim, tem o máximo... A casa do místico fica a meio da ladeira do Alto da Maloca, não distante do céu aonde sua voz, por primeiro, se eleva. Todos admiram a sublimada vida desse excêntrico homem, mas ninguém o imita, querem apenas o reconforto da sua voz.
A roupa do místico é branca, totalmente branca, se não fossem a poeira do vento e a sujeira do piso onde se senta para ficar em pé a sua voz. Contudo, jamais se vestiu com qualquer variação do branco, deixando as cores para as coisas da natureza que tanto ama. Como se fosse sua segunda roupa, também branca é a sua casa, mais ainda o seu quarto, onde dorme, no chão, poucas horas da noite. Na cozinha, prepara seus chás e guarda pão e alguns frascos de semente; na sala, recebe curiosos e pessoas que se dizem carentes da sua palavra. Corre fama de que sua voz é milagrosa, mas nunca ele fez um milagre. Contesta ele que o milagre é feito por aqueles que o escutam, eles próprios curam suas feridas e males, ao transformarem suas vidas.
Mantém poucos pertences que, enfim, não são seus, tão grande é seu desprendimento. Certo dia, estava a meditar, quando um desconhecido entrou até à cozinha e furtou uma panela de barro, a quartinha d’água e uma porção de feijão; o místico tudo viu sem manifestar reação e continuou a refletir no sentido da vida. Come do que planta no quintal da casa e de onde alguns também colhem, sem dar satisfação, verduras, hortaliças, frutas como se fossem remédios que curam doenças ou preservam a saúde; ele se contenta com o mínimo e, assim, tem o máximo... A casa do místico fica a meio da ladeira do Alto da Maloca, não distante do céu aonde sua voz, por primeiro, se eleva. Todos admiram a sublimada vida desse excêntrico homem, mas ninguém o imita, querem apenas o reconforto da sua voz.