A PONTE HUMANA

Este fato inusitado aconteceu na cidade de Oeiras, primeira capital do Piaui, no ano de 1965, quando eu estudava no seminário, cujo regime era semi-internato. Éramos apenas dez jovens com aspiração sacerdotal. O nosso reitor, padre David, também acumulava a função de diretor do ginásio estudávamos. E como ele mesmo falava de maneira jocosa, sendo assim ficava mais fácil de acompanhar de perto o nosso comportamento, principalmente com a ala feminina. Mas, ainda bem que não foi necessário nenhum puxão de orelha, isto é, nenhuma advertência. vivíamos seguindo o padrão pré-estabelecido. Apesar de algumas raríssimas "provocações" para testar o nível da nossa vocação de celibatários, conversávamos normalmente com as jovens e os demais colegas.

Certo dia chegou em Oeiras o famoso Grã-Bartolo Circos. O comentário inicial entre nós era que a chance de assistirmos a algum espetáculo era praticamente zero. Mas nos equivocamos. Após a estreia do espetáculo circense nos contentamos apenas com os comentários dos nossos colegas de ginásio. E foi assim que chegou ao nosso conhecimento que o padre David esteve lá, assistindo de camarote. Isto foi como uma luz no fim do túnel. Ou seja, havia uma esperança no ar. E eis que quando menos esperávamos, durante uma reunião de rotina ele nos deu a boa notícia. Iríamos sim assistir uma noite de espetáculo no grã-Bartolo Circos. Neste dia, devido a grande expectativa, quase não jantamos direito.

Acontece que fomos bem no dia em que o dono do circo fez uma promoção (ou pro mocinha?): consistia no seguinte: entrada grátis para damas acompanhadas. A princípio isto não queria dizer nada para a nossa equipe de seminarista. Isso era o que pensávamos. Mais uma vez nos enganamos. No momento em que nos enfileiramos para adentrar no recinto circense, eis que várias moças, por sinal, as nossas colegas do ginásio, correram e, literalmente, nos pegaram. Explico: cada uma ia se entrelaçando com um seminarista e entraram sem nenhum problema. Afinal, a promoção era delas. O padre reitor/diretor ao perceber aquele "assédio" premeditado e inocente, apenas interesseiro, deu uma risada que nos surpreendeu bastante. Isto sem falar que o próprio também entrou "acompanhado", provisoriamente. Pois logo chegamos no interior do circo a ala feminina se dispersou,após cada garota agradecer com um beijinho no rosto do seu respectivo cavalheiro, um educado e tímido seminarista, diga-se de passagem, literalmente.

E foi assim que chegamos à conclusão que, para não dizer outra palavra, servimos de ponte para aquelas alegres garotas. No dia seguinte, durante o intervalo das aulas, foi um comentário geral sobre aquele fato até certo ponto engraçado e divertido, por que não?

JOBOSCAN

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Enviado por JOBOSCAN em 11/10/2013
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