O lugar onde a minha mãe mora
Telefono para casa, aproveitando a promoção de alguma operadora de celular. Digo casa, embora faça mais de três anos que eu não moro lá. Mas pra mim casa será eternamente o lugar onde a minha mãe mora. E ela mora num lugar tão distante daqui que parece mentira quando começa a fazer um inventário das roupas que precisou vestir para suportar o frio. Deixei muitas roupas de frio em casa, incluindo uma jaqueta que cairia bem a um esquimó, e também a essas minha mãe teve que recorrer nos últimos dias. Para não ficar por baixo, conto que em Brasília também está frio, o que na prática significa que não estamos derretendo, e também exagero a ausência do sol, que ultimamente tem aparecido menos do que as nuvens.
Falamos das novidades. Na casa em que minha mãe trabalha agora existe uma gata, pequena ainda. A dona é uma garota adolescente, embora ela não pareça dar muita atenção ao bichano. Este, muito esperto, já percebeu que apenas na minha mãe encontrará a atenção que sua pouca idade exige. É por essa razão que tranquilamente se acomoda e deita aos seus pés sempre que a encontra parada – o que é raro, considerando o tanto que trabalha. Dizem que a gata sente a sua falta durante o final de semana e a fica procurando pela casa. Ao fim do dia, quando minha mãe se prepara para ir embora, a gata percebe e se recolhe ao seu canto.
Também há um cachorro por lá – um daqueles cachorros que lamberiam a mão do ladrão que assaltasse a casa. De vez em quando a gata aparece perto da sua casinha para provocar, mas o cachorro nem se mexe. E essas são pequenas coisas que fico sabendo quando ligo para casa, ocasiões em que, como na vida, eu mais ouço do que falo. Comentei o meu recente sucesso com as baratas, conversamos sobre os insetos que não vemos mais, e ela me falou da dificuldade que é dormir de domingo para segunda. Teríamos conversado mais se o som não começasse a falhar, o que interpretamos como uma indireta da operadora para que desligássemos.