ADEUS SEM CARA DE ATÉ LOGO

No metrô, na despedida, prendendo o choro, ela tirou o brinco de uma das orelhas e o entregou pra ele:

_ Tome, guarde, balbuciou carinhosamente.

O outro brinco, saindo dali, ela guardaria numa concha, até o sim, até o não, até o nunca reencontro.

A orelha desbrincada, no entanto, sentindo-se nua, danou-se a gritar até ficar sem voz, embora nem tivesse boca e a correr tentando resgatar o par, até faltaram-lhe as pernas que nem tinha.

Nesse conto de adeus foi uma das orelhas quem mais sofreu

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Nunca mais se viram. Um dia, anos passados, ele apressado entra num ônibus, senta no primeiro banco vazio que encontra e se ajeita. Minutos depois, refeito da corrida pelo vento batendo no rosto, olha para frente e distingue entre tantos, um perfil.

_ Não, não é possível... não pode ser ela! Olha mais um pouco torcendo para que a moça se volte para trás. Atendendo a torcida ela ajeitando os cabelos se vira e ele constata, é ela!

No corredor, depois de dois, por favor, e três "com licença?", ele se aproxima dela, se (re)apresenta e conversam amenidades tentando driblar no espaço vazio do campo da memória as artilheiras lembranças, até o apito final do ônibus.

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A adolescente tinha olhos verdes e morava - talvez more ainda, na Consolação, estudava no Maria, uma escola de freiras que ficava - fica, entre uma igreja e um shopping perto da Paulista. Com obstinação fazia balé, embora não levasse muito jeito, no futuro, quem sabe, tentaria jazz. Talento tinha mesmo era pro teclado e para se aprimorar não perdia sequer uma aula!

No dia em que a conheci faria a sua primeira apresentação num concerto organizado pelo conservatório de música, em uma pizzaria. A família, os amigos da escola, o namorado e eu, mãe de namorado, estaríamos todos lá, plenamente dispostos a aplaudi-la.

No ano seguinte, com a mudança de São Paulo pro Rio, o namoro de vidro se quebrou e os caquinhos, o tempo foi colando um a um até ele virar cristal no pensamento.

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O frio de inverno - apesar das visíveis e comprovadas mudanças climáticas e talvez até mesmo por causa delas, nessa nossa primavera tão díspar, na despedida nunca diz adeus, acena com um até logo.