Jogo no Maracanã
Rio de Janeiro, estádio Maracanã, antes da reforma para a copa. Dois curitibanos, aproveitaram um pacote promocional de passagens aéreas e hotel disponível na internet e fizeram um passeio de final de semana. Dois dias para conhecer as belezas naturais da cidade maravilhosa.
Não, não foram nas favelas dos morros cariocas. Desculpas, sempre as desculpas:
- não deu, né! dois dias é pouco tempo para conhecer tudo! Disse um.
- até queria ir, acho interessante o modo de morar e construir em morro, uma beleza do ser humano! Filosofou outro.
Mas acharam tempo para assistir um dos clássicos do futebol carioca: botafogo versus fluminense. Ambos fanáticos por futebol. Ansiosos esperavam sentir a emoção do estádio lotado, a torcida cantando e empurrando o time para a vitória em busca do gol.
Jogo das 18:00 horas começa. E se perguntavam cadê a torcida? Pouco tempo depois entenderam o motivo da falta de torcedores num dos chamados "templos" do futebol. Jogo ruim, dificil de assistir, times apáticos, jogadores sonolentos. Isto explicava porque os times estavam na zona intermediária na tabela de classificação do campeonato.
Fim do primeiro tempo zero a zero. Os técnicos vão mudar o time no intervalo e o jogo vai melhorar, comentaram. Otimistas.
Apita o árbitro, e começa o segunto tempo. Igual ao primeiro. Sonolento e sem emoção. Arquibancada calada. Cadê a emoção para alegrar os poucos torcedores perdidos no gigante de concreto?
Lá no fundo surge um grito. E o grito foi se aproximando. Da torcida impaciente com a falta de espetáculo?
Não, da vendedora de cachorro quente, que gritava:
- olha o cachorro queeeeeeeeeeeente!!!
- cinco reais o cachorro queeeeeeeeeente!!!
Os vendedores ambulantes estavam no ritmo do jogo. Não estavam conseguindo atrair a atenção dos torcedores para seus produtos.
De cabelos brancos, uma senhora vinha animada berrando:
- cinco reais o cachorro queeeeeeeente!!!
- olha o cachorro queeeeeeeeente!!!
Ela estava tentando cobrir o prejuízo do estádio vazio. Estava dificil, o público estava tão animado quanto a partida de futebol.
De repente a senhora de cabelo branco muda o grito, e começa a gritar:
- hoooooodog!!!
- olha hooooodog!!!
Chegando perto dos dois turistas curitibanos, ela carrega seu vozeirão, e solta toda a sua fluência verbal em inglês. Os dois curitibanos eram brancos, bem brancos, as pernas são parecidas com dois pedaços de palmito, ou duas mandiocas descascadas. Ambos de cabelos loiros encaracolados e olhos azuis, descendentes remotos de eslavos. São primos.
E agora são gringos.
A vendedora passou olhando para os dois e berrando em inglês do Joel Santana:
- olha hooooodog!!!
- hoooooodog!!!
A fome não chegou para os turistas curitibanos, apreciadores do bom futebol.
Jogo enrolado, amarrado, sem emoção. Jogo com cara de zero a zero. Sairam antes do término da partida, pois o voo de volta a capital paranaense não iria esperá-los.
Chegaram no aeroporto em cima da hora, mas deu tempo de saber que o fluminense ganhou o jogo, com um belo gol nos acréscimos do segundo tempo. Eles só viram o gol no dia seguinte, pela televisão.