Inquietações numa sala de espera

Como é chato ficar esperando nessas "salas de espera". Nada acontece, ninguém conta uma fofoca, a tv não transmite nada de interessante - isso quando tem tv -, as revistas são mais passadas que bife na chapa e a decoração do ambiente não ajuda.

Começo olhando para o chão. Depois, meu olhar começa a escalar as paredes e parar lá no teto. Fico procurando alguma teia de aranha - até que acho -, olho a luminária, desço até a metade da parede e começo outra viagem. Olho a parede, procuro ciscos, analiso a cor, os quadros, vejo se eles estão tortos, quem os pintou. Depois, vou até o chão e começo a contar os pisos, subo o olhar e começo a contar as cadeiras, quantas pessoas estão sentadas, quantas cabem na sala...

Agora é hora de olhar a cara das pessoas. O senhor da frente brinca com o celular, a recepcionista fica perdida no meio dos papéis, a mulher ao lado não sabe se olha a tv ou se olha para o sapato da mulher da frente. A criança da outra mulher da frente não para quieta. Opa, é nessa que eu vou focar agora.

Crianças nesses lugares são tudo de bom, porque elas sabem quebrar a monotonia e o show de tédio que esses lugares têm. Elas são espontâneas e podem se dar ao luxo de fazerem e dizerem o que quiserem, enquanto os adultos ficam testando caras e bocas e posições. Tem gente que faz um baita esforço para parecer chic, outras nem se esforçam para melhorar a cara de enterro, tem aquelas que parecem felizes (???) por olhar a tv ou as notícias passadas da revista. Tem pessoas, como eu, que procuram distração ao olhar e analisar o ambiente como um todo. Se todos resolvessem fazer o mesmo, a experiência terminaria em empate técnico. Pior que isso é quando os olhares começam a se encontrar. Nesse momento, começo a ter a sensação de que estou em uma pista de carros malucos, - aqueles de parque de diversão - onde tenho que dirigir cuidadosamente o meu olhar para que ele não bata no alheio.

A melhor coisa que as salas de espera têm é o lado de fora, pode até ser barulhento ou cheio de gente, mas é onde as pessoas voltam ao seu "eu" normal.

Paloma Dias
Enviado por Paloma Dias em 09/10/2013
Código do texto: T4518596
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.