AS VEZES NO SILÊNCIO DA NOITE

AS VEZES NO SILÊNCIO DA NOITE

09/10/2013

É como canta o mano Caetano, “as vezes no silêncio da noite eu fico imaginando”, o que é possível sonhar acordado. Sonhar com a companhia da companheira que entre uns cafunés e carinhos na orelha me faz viver numa ilha com uma pequena choupana, uma rede entre duas palmeiras, água de coco para tirar o sal dos lábios depois dos longos beijos dados em todas as curvas de uma pele bronzeada. Uma ilha sem luz elétrica, sem sinal da internet e de celular. Uma ilha banhada por um pequeno riacho de uma água estranhamente doce que rega uma horta que alimenta meia dúzia de galinhas e o galo dourado. Uma ilha aonde não chegam as guerras do oriente, os assassinatos e as explosões provocadas por terroristas e aterrorizados donos do poder nos Estados Unidos, as corrupções de corruptos e corruptores que destroem os exemplos de dignidade e decência que ainda existem. Uma ilha aonde não chegam às mortes nos morros, a injusta justiça omissa, a greve dos bancos e a pequena repercussão que é dada por uma mídia prostituída por quem lhes paga as propagandas. Uma ilha onde não existe o politicamente correto, pois onde há política não pode haver correção, ou melhor, só existe casa de correção, que nada corrige e ensina ao ladrão de galinha que a galinha do vizinho é a galinha dos ovos de ouro e que depois que dela se apoderar ele poderá se tornar um representante do povo, do povo esquecido e abandonado que quando se diz presente com gritos para acordar o gigante adormecido, vê seus gritos abafados por vândalos saídos de não se sabe de onde e para que e que nos faz pensar a quais interesses se prestam já que por consequência de seus atos só prosperam o esvaziamento dos legítimos movimentos e a revolta da sociedade da qual fazem parte ou servem. Uma ilha sem campo de futebol, de jogadores de pés descalços e que tiram no par ou impar quem joga no time de camisa ou no sem camisa. Uma ilha sem copa do mundo, sem CBF, sem FIFA. Uma ilha sem bolsa de valores, sem cambio, sem carros, metrôs, ônibus, BRTs e assemelhados, sem polícia militar ou civil, sem BHtrans, sem guarda municipal sem moedas, sem zumbis ricos ou pobres consumidores de crack, cocaína, ecxtasy e outras.

Fecho os olhos para poder sonhar acordado com esta ilha onde todos vivem pelos outros, onde não se é feliz se houver alguma infelicidade.

Fecho os olhos para lembrar acordado desta Ilha de Vera Cruz.

Geraldo Cerqueira