Chamávamos de Vilone
Vilone. Chamávamos de Vilone, mas nunca na frente dela. Era um trocadilho com Ivone, o nome de uma vilã da novela. Eu aprendi a odiar Vilone antes mesmo de a conhecer. As informações que chegavam até mim não eram muito animadoras: Vilone passava o dia inteiro falando de si no trabalho, lembrando dos homens que a desejavam, ressaltando a vida de luxo que levava, mas também exagerando o sofrimento de sua vida – tinha um filho pequeno e havia se separado há pouco tempo. A amiga que me falava de Vilone trabalhava ao lado dela e já começava a nutrir pensamentos homicidas. Eu gostava dessa minha amiga e por isso também odiava Vilone.
Conheci Vilone algum tempo depois, quando era eu quem devia trabalhar ao lado dela. Achei-a extremamente simpática. Sorridente. Ajudou-me com sinceridade quando eu precisava aprender. Um dia se ofereceu para me levar de carro a uma exposição que ficava longe. Estava sempre bem vestida – diziam que nunca havia repetido uma roupa. Um dia não quis acompanhar uma reunião na Rodoferroviária, lugar onde nunca havia estado e que lhe parecia pobre e pouco seguro. No geral, ainda era a Vilone que eu havia ouvido falar, mas eu não a odiava mais.
Uma coisa incomodava Vilone: o nosso silêncio. Reclamava que passávamos a manhã calados em frente ao computador. Queria uma sala mais viva. Sugeriu pintar as paredes, colocar umas cores, não deixar só aquele branco. Reclamava sorrindo, mas um dia Vilone explodiu. Disse para a chefe que ninguém gostava de trabalhar lá, questionou a sua autoridade, lembrou de injustiças passadas, falou que todos estavam contra ela. Tive pena e tomei a resolução de ajudá-la. Não consegui, pois foi demitida. Depois disso continuamos recordando Vilone sempre com zombaria. Todos confessaram que não gostavam mesmo dela. Provavelmente sou o único que guarda dela uma imagem boa – sorridente, feliz, ansiosa pelo amor dos outros. A mim ela não me engana: quem sorri daquele jeito não pode ser vilã de verdade.