Insônia: a lição do Mestre
No silêncio da alcova, o tique- taque do relógio tem a impertinência de um grilo metálico.
Josué Montello
Insônias, eu as tenho, com angustiosa e malvada frequência. Cheguei, assim, à idade madura com meu sono noturno - que esperava fosse, nessa quadra, tranquilo e calmo - literalmente entrecortado; feito de pedaços!
Segundo os que estudam a insônia, noites mal dormidas não é novidade, quando as rugas se acentuam no rosto, denunciando a velhice que chegou ou se aproxima.
No meu caso, a verdade nua, crua e dolorosa é que se foi o tempo em que, toda vez que, cansado, buscava o aconchego de minha cama ou de minha rede, lá chegava quase dormindo.
Logo pegava no sono e dormia a noite toda. Hipnos, o deus grego do sono, zelava por mim, não permitindo que pesadelos angustiantes interrompessem o merecido descanso.
Enquanto Morfeu se incumbia de me mandar belos sonhos...
Mas a insônia é teimosa. De repente, madrugada alta, ela me assalta sem dó nem piedade. E me vejo como o saudoso romancista Josué Montello, comentando suas insônias, "a perfurar a escuridão da alcova com os olhos acesos."
Tenho procurado enfrentar as minhas insônias ouvindo rádios, vendo televisão, e nada. Bebendo um leite morno. um chá de camomila, e nada. Resistindo, claro, heroicamente a tomar qualquer remédio que me faça dormir.
Noto ainda que muita coisa concorre para agravar as insônias que me perseguem. O horário luminoso exibido pelo meu relógio de cabeceira, por exemplo.
Noite dessas - pasmem! -, um grilo sacana, sim um grilo, veio me fazer companhia, aumentando minha aflição de infeliz insone. Estranhei. Um grilo no meu apartamento pendurado no quinto andar do meu prédio?
Difícil de acreditar. Mas ele apareceu. Teria subido pelo elevador, admitiu o zelador do edifício ao lhe pedir maior vigilância, afastando os grilos atrevidos.
Numa dessas madrugadas de forçada vigília, depois de ler e reler o jornal de ontem, voltei às crônicas do escritor Josué Montello, excelente, também, nesse tipo de composição literária. Nunca é demais repetir.
O Mestre Josué, nos seus escritos, que se destacam pela redação fácil e escorreita, traz sempre bons conselhos pros seus leitores.
Em uma crônica, publicada em 18.8.1956, ele se declara vítima de "insônias teimosas".
E como as combatia, iniciou afirmando que "Igual ao prazer de comprar livros durante o dia, conheço apenas este: o de lê-los pela madrugada".
E mais adiante: "Não me queixo nem me rebelo. Porque encontrei na leitura a retificação desse desacerto", referindo-se às suas noites de insônia.
É a sábia lição do mestre de Diário da Noite Iluminada, ou seja, a de que o livro é o melhor companheiro das longas noites em claro.
Madrugada adentro, livro nas mãos e diante dos olhos curiosos, tenho enfrentado, resoluto e corajoso, as minhas malditas insônias. Tem dado certo.
No silêncio da alcova, o tique- taque do relógio tem a impertinência de um grilo metálico.
Josué Montello
Insônias, eu as tenho, com angustiosa e malvada frequência. Cheguei, assim, à idade madura com meu sono noturno - que esperava fosse, nessa quadra, tranquilo e calmo - literalmente entrecortado; feito de pedaços!
Segundo os que estudam a insônia, noites mal dormidas não é novidade, quando as rugas se acentuam no rosto, denunciando a velhice que chegou ou se aproxima.
No meu caso, a verdade nua, crua e dolorosa é que se foi o tempo em que, toda vez que, cansado, buscava o aconchego de minha cama ou de minha rede, lá chegava quase dormindo.
Logo pegava no sono e dormia a noite toda. Hipnos, o deus grego do sono, zelava por mim, não permitindo que pesadelos angustiantes interrompessem o merecido descanso.
Enquanto Morfeu se incumbia de me mandar belos sonhos...
Mas a insônia é teimosa. De repente, madrugada alta, ela me assalta sem dó nem piedade. E me vejo como o saudoso romancista Josué Montello, comentando suas insônias, "a perfurar a escuridão da alcova com os olhos acesos."
Tenho procurado enfrentar as minhas insônias ouvindo rádios, vendo televisão, e nada. Bebendo um leite morno. um chá de camomila, e nada. Resistindo, claro, heroicamente a tomar qualquer remédio que me faça dormir.
Noto ainda que muita coisa concorre para agravar as insônias que me perseguem. O horário luminoso exibido pelo meu relógio de cabeceira, por exemplo.
Noite dessas - pasmem! -, um grilo sacana, sim um grilo, veio me fazer companhia, aumentando minha aflição de infeliz insone. Estranhei. Um grilo no meu apartamento pendurado no quinto andar do meu prédio?
Difícil de acreditar. Mas ele apareceu. Teria subido pelo elevador, admitiu o zelador do edifício ao lhe pedir maior vigilância, afastando os grilos atrevidos.
Numa dessas madrugadas de forçada vigília, depois de ler e reler o jornal de ontem, voltei às crônicas do escritor Josué Montello, excelente, também, nesse tipo de composição literária. Nunca é demais repetir.
O Mestre Josué, nos seus escritos, que se destacam pela redação fácil e escorreita, traz sempre bons conselhos pros seus leitores.
Em uma crônica, publicada em 18.8.1956, ele se declara vítima de "insônias teimosas".
E como as combatia, iniciou afirmando que "Igual ao prazer de comprar livros durante o dia, conheço apenas este: o de lê-los pela madrugada".
E mais adiante: "Não me queixo nem me rebelo. Porque encontrei na leitura a retificação desse desacerto", referindo-se às suas noites de insônia.
É a sábia lição do mestre de Diário da Noite Iluminada, ou seja, a de que o livro é o melhor companheiro das longas noites em claro.
Madrugada adentro, livro nas mãos e diante dos olhos curiosos, tenho enfrentado, resoluto e corajoso, as minhas malditas insônias. Tem dado certo.