Vale o conjunto da obra

  Um dia desses, vi numa rede social uma postagem, no mínimo, desrespeitosa com três das mais talentosas atrizes brasileiras: Rosamaria Murtinho, Suzana Vieira e Nathália Timberg. A postagem com a foto das atrizes vinha com a frase: “Vai botox aí?”, numa demonstração clara de deboche pelo fato de as três estarem com cara de “velhas”. Não achei a menor graça e não curti, mesmo que tenha sido postado por uma amiga pessoal. Na verdade, fiquei surpresa por vê-la compartilhando algo de tamanho mau gosto e de total falta de respeito.
  Não sei que idades têm as atrizes. Suzana talvez tenha sessenta e poucos anos, Rosamaria, acredito que já deva ter alcançado os setenta, e Nathália, se não chegou aos oitenta está bem perto. Mas e daí? É evidente que a essa altura não tenham mais a pele lisinha, viçosa, jovial. É natural que, apesar de quilos de maquiagem, não consigam mais esconder as marcas de expressão, as rugas, as manchas senis. Todas as pessoas envelhecem. E atrizes também. Elas não são deusas, são pessoas como nós, frágeis e vulneráveis, diante do tempo que é implacável.
  Quando Nathália e Rosamaria surgiram na televisão, eu era apenas uma menina. Naquela época, a televisão ainda era em preto e branco e não havia os recursos tecnológicos que existem hoje em dia, elas se destacavam pela beleza, além do enorme talento. Suzana apareceu nos anos 1970, quando eu era adolescente, no incrível e inesquecível papel da babá Nice de Anjo Mau. Ela era bem jovem, não tinha a beleza exuberante de outras atrizes, mas seu talento era espetacularmente belo.
  Portanto, há décadas que essas três mulheres vêm brilhando na televisão, no teatro e no cinema, interpretando as mais diversificadas personagens, como protagonistas, antagonistas ou coadjuvantes, mas sempre com a maior competência e grande profissionalismo e por isso merecem o nosso respeito e admiração.
  Vê-las ainda interpretando com vigor e energia para mim é um presente e motivo de grande orgulho por serem artistas brasileiras. Rendo-me ao talento, à entrega ao ofício de atuar, ao amor que têm pela arte. A mim não importa se estão com expressões envelhecidas, que já não apresentem beleza física. Para mim vale o conjunto da obra, reconheço apenas o que fizeram e continuam a fazer pela dramaturgia nacional e ponto.
 
Jorgenete Pereira Coelho
Enviado por Jorgenete Pereira Coelho em 09/10/2013
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