A Última Vírgula
A Pontuação, enquanto parte das regras da boa gramática, nos traz algumas surpresas, surgindo a impressão de que situações não chegaram ao cabo, tal como se a vida acontecesse e, afora as vírgulas precedentes, todos os relatos dos fatos terminassem com vírgulas, como a narrativa de José Saramago, escritor de primazia ímpar no uso das pequenas pausas, mantendo a frase toda presa em suspense pelo acontecimento a seguir, durante o prazo em que as novas acontecem e, quando perguntamos ao cidadão: O que ocorreu de fato nos últimos dias? "Não vi nada, nem ouvi! Porquê? Aconteceu alguma coisa?"; brincadeira de mal gosto! e quanto a propalada possível cassação do chefe do executivo recém empossado? As vírgulas tomaram-se pares das interrogações, por conta daquelas citadas por pessoas que se opõem, ou, conforme o Dicionário Michaelis, vírgula implica em "Palavra com que se faz uma objeção ou restrição, ou um comentário malicioso": quando muito, alguns mais ousados comentavam "saiu na Internet" ou "vejam a sentença do STF" e, no entanto, ao cidadão comum, depois das vírgulas, ficaram interrogações "ipso facto": em que resultaram todos os Processos Judiciais? Eles sumiram ou mudaram de foro depois de eleito como prefeito? Tais perguntas também criaram suas vírgulas e o passado mantém em suspenso o futuro, tolhendo no presente ações que poderiam resultar em melhorias essenciais ao município, enquanto assomam-se ao nosso cotidiano vírgulas, e mais vírgulas, e a vida continua, ou melhor, acontece, no estilo do Saramago, onde atitudes ocorreram e passado algum tempo o morimbundo sobrevive, pois como se apresentou à casa do doente designando-se de médico, destarte seja bom ou ruim (o que ainda não se cogitou, apesar das virgulas), e porquê muitos dos interesses são combinados num primeiro momento e todos esperam a sua fatia do queijo (outrora vitaminado e hoje minguado), e que, enfim, se repartirá pelos órgãos do agonizante, sempre precedido de uma ou mais vírgulas trazendo, ao gosto adocicado daqueles que praticam a vingança, o doce sabor do fel com que ambos — o médico e o decadente — se envenarão, posto que bebem da mesma água; lastimoso é que, se levado ao óbito, junto a ele morrerão esperanças de que tenhamos, além das virgulas, possibilidades dum futuro melhor aos cidadãos, hoje tolhidos em suas possibilidades de formação profissional voltadas á realidade, e, quando as têm, precisam aplicá-las lonige do nosso município, pois, e.g., quais seriam as atividades profissionais preponderamos em nossa Cidade? Temos, em vista curta e fácil percepção, a Construcão Civil e a Pesca; considerando esta característica, que esforços foram envidados pelo poder público em propiciar a capacitacão da mão-de-obra local e, por conseguinte, agregar valor à renda das famílias do moribundo Iguape? Mesmo que deixassem as vírgulas de lado, sobre a mesa dos munícipes os pratos continuam vazios e, noutras bandas, o Severino, aquele do Planalto Central, diz (sic) "estou prestando um favor ao País" quando emprega parentes sem concurso nos quadros funcionais da Câmara, o outro chefe diz nada saber e, enfim, demonstram que existem vírgulas em todas as esferas da administração pública e, para ser eqüanime, caro leitor deste humilde pena, termino esta crônica com uma vírgula,