Blackblocs...a serviço de quem ?
Blackblocs... a serviço de quem?
Jorge Linhaça
Vivemos durante alguns meses um despertar democrático em nosso país.
Multidões tomaram as ruas deste país protestando contra a ineficácia das políticas públicas e a corrupção reinante em todas as esferas governamentais deste país.
Claro que, no meio de grandes multidões, sempre aparecem os aproveitadores e vândalos, pouco ou nada comprometidos com os movimentos.
Foi assim que protestos pacíficos foram infiltrados por bandidos mascarados cujo maior objetivo é semear o caos e desviar o foco das reivindicações lícitas e necessárias.
Esses marginais travestidos de manifestantes aproveitam a confusão gerada pelos confrontos armados com a polícia para saquear lojas e depredar o patrimônio público e privado.
Agora entramos na onda dos blackblocs, batalhões compostos em sua maioria de jovens sem noção de bom senso, que se ocupam pura e exclusivamente de promover quebra-quebras e furtos a lojas.
Não adianta usar como desculpa a teoria do “saco-cheio”, do inconformismo com o atual estado de coisas e nem mesmo a truculência da polícia.
Que temos uma polícia despreparada e que torna-se valente contra trabalhadores , usando-se da desculpa eterna do “estar cumprindo ordens superiores” não é segredo para ninguém.
Que nossa polícia não se ocupa de investigar os maiores ladrões deste país que são os políticos de todas as esferas, também não é segredo para ninguém. Agora que , partir para um confronto estúpido com a mesma, com as caras cobertas para ficar “famoso” em algum vídeo do Youtube, é uma estupidez sem tamanho, também é uma estupidez sem tamanho.
Resta saber a quem interessa esse estado de coisa. A quem interessa essa marginalização das lícitas reivindicações da população.
Eu sei a quem não interessa. Não interessa à população, não interessa às pessoas de bem, e não interessa aos que são atingidos pelos roubos e destruição de seu patrimônio.
Se isso interessa a algum partido político é algo a ser analisado.
O problema é que essa baixaria toda vai respingar em todos os partidos democraticamente constituídos. A nenhum deles interessa uma volta aos tempos da ditadura. A nenhum deles interessa o caos implantado nas ruas.
Isso não significa que não interesse a alguns políticos envolvidos em escândalos emergentes, como uma cortina de fumaça para desviar o foco das investigações, afinal nossa imprensa tem complexo de hiena e corre de um para outro lado em busca de fatos que angariem maior audiência para suas mídias.
O grande perigo é que, aqueles que hoje se valem desse artifício, podem não ter a noção real de que é impossível controlar uma turba que vai agregando novos integrantes a cada dia.
Uma turba é uma turba, não é uma facção organizada, não é um exército que aceite ordens.
Uma turba é um organismo anárquico que ganha vida própria e alimenta-se de si mesma, num ciclo antropofágico que não tem hora para acabar.
Quem já ouviu falar dos Ladrões de Gadianton, pode ter uma noção maior do que estou dizendo. Quem nunca ouviu falar eis uma boa hora para pesquisar sobre o assunto.
Nenhum movimento sobrevive sem uma liderança. No caso das turbas, a pulverização de objetivos específicos e a falta de uma figura centralizadora acaba por gerar múltiplas lideranças que acabam por digladiar-se entre si em busca de maior proeminência.
Se não tivéssemos uma força policial controlada por interesses políticos, mais do que pela sua função de proteger e servir à população, se essa mesma polícia não se ocupasse constantemente de agredir a população e defender os políticos e seus desmandos e não haveria espaço para a ação desse tipo de grupos. Até porque a população apoiaria a sua ação repressiva sobre esse tipo de marginais.
Como o erro é contumaz dos dois lados do “front” torna-se por demais complexo avaliar caso a caso quem nasceu primeiro “ O ovo ou a galinha”, o fato é que a julgar pelas declarações da segurança pública de São Paulo a situação tende a piorar com a volta das balas de borracha.
Resta saber o destino dessas balas, se vão ter o endereço dos vândalos de plantão ou vão acabar no olho de algum professor ou outro trabalhador em greve.
De qualquer maneira, não serão apenas os policiais os responsáveis, essa responsabilidade estará em grande parte também sobre os ombros dos blackblocs.