OS CAMINHOS DO AMOR

Ela sentou-se, e logo começou a dizer, que viera por insistência de suas colegas, mas que nem precisava se ocupar com ela, ou com aquela criança que teimava em crescer em seu ventre.
Sem nenhum pudor, ou culpa, desfilou um rosário de métodos caseiros que usara para livrar-se do hóspede indesejado.
Mas reconhecia, que ele era mais teimoso que ela, pois persistia em ficar colado ao seu útero.

A voluntária, logo percebeu que, estava diante de um caso onde escutar com atenção, e sem interromper, ou demonstrar  qualquer reprovação, era o melhor caminho.
E seguindo seus instintos e experiência foi o que fez.
Ao final da narrativa, a jovem, mostrava que sua vida era feita de dor, mágoa e sofrimento.
Nessa hora,  a atendente pode enfim se manifestar, e pediu a moça, que desse uma chance aquele ser que crescia em seu ventre, deixando-o  vir ao mundo.
Depois de nascido, se ainda a jovem mãe, continuasse a não querer a criança, ela seria encaminhada imediamente para adoção.
Com argumentação firme, e tom carinhoso, mostrou a jovem, o direito à vida, que aquele ser tinha.
E, se ela o deixasse nascer, fosse através dela ou de outra mãe, o bebê teria a chance de viver. Mas, até isso acontecer, somente ela, poderia deixá-lo ou não vir ao mundo. 
Como argumento decisivo formulou a pergunta: você não acha melhor dar seu nenê para adoção, do que matá-lo?
A jovem respondeu que iria pensar, sobre aquela proposta, mas avisou por repetidas vezes, que se optasse por não interromper a gravidez, daria a criança para adoção.
Acrescentou, que não sonhara com aquele filho, e nem tinha condição alguma de criá-lo.

Os meses se sucederam, a gravidez chegou ao final. E veio ao mundo um saudável e lindo menininho, que somente Deus para explicar como ele pode resistir a tantas investidas contra sua vida, no princípio da gestação, e nascer assim tão forte.
No segundo dia, após o nascimento, a voluntária, vai visitar a jovem mãe, e pergunta com carinho, se ela já viu o filho.
Com os olhos inundados de lágrimas, ela responde que sim, com a cabeça, e com a voz sumida pela emoção, a jovem confessa que não quer mais abrir mão de seu filho.
Em tom comovente pergunta: "será que um dia ele vai poder me perdoar?" 
Nesse momento o bebê chega para mamar. E a cena mostra um laço de amor profundo entre os dois seres.
Emocionada, a voluntária sai em silêncio do quarto, pensando nos caminhos tortuosos que o amor tem para se fazer presente no coração dos seres humanos.


(Imagem: Lenapena)
Lenapena
Enviado por Lenapena em 08/10/2013
Reeditado em 09/10/2013
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