UMA CENA INUSITADA

Durante uma viagem cansativa, demorada. Calor extremo, e uma paisagem queimada pelo sol causticante e ausência de chuva. Estava no Alto Sertão.

Vinha do grande Recife depois de ter enfrentado uma fila quilométrica numa vã tentativa para conseguir um atendimento pelo SUS. Se fosse caso de morte, naquele momento estaria de luto. Mas, qual brasileiro ainda não passou por isso?

Sofria em silêncio sem ter a quem recorrer, juntava os pedaços e voltava para casa sem uma expectativa de dias melhores. De repente, algo me chamou a atenção. Vi um jumento, ainda atrelado à carroça caído ao chão. Alguns homens percebendo a cena correram para junto do animal que jazia largado sem condições de ficar em pé.

Foi nesse momento que vi que ainda há pessoas que se incomodam com os animais. Um grupo juntando as forças, falando carinhosamente com o coitado deram um jeito de soltar as amarras que o prendiam; enquanto agiam com cuidado, para minha surpresa vi o animal balançar o rabo como se fosse um cão diante de seu dono.

Nesse momento, esqueci os momentos amargos enquanto era invadida por um sopro de esperança.

05/10/13

Ione Sak
Enviado por Ione Sak em 07/10/2013
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