Um Outro Olhar

Pobre, preto, favelado, sub-empregado. Este é o perfil do pedreiro Amarildo. Não estou denegrindo a pessoa do pedreiro, jamais faria isso com uma pessoa, mas começo esse texto traçando um perfil que é comum nas favelas, hoje politicamente chamadas de comunidades. O porquê eu traçar um perfil logo no início do texto? Simplesmente para começar a entender a razão pela qual o desaparecimento do humilde homem estar sendo tratado pela mídia em primeira página, com reportagens de folha inteira em jornais, longos minutos em horário nobre na televisão, no rádio, enfim, o assunto tomou as manchetes. Mas eu sempre analiso o porquê de um crime ser mais investigado que outros, pois todos os dias pessoas com esse perfil são assassinadas nas favelas pela polícia com as mesmas características do que ocorreu com o Amarildo, e não ganham o interesse da polícia em investigar e muito menos da mídia. Em que esse crime é diferente dos outros? Bom, a resposta na minha humilde opinião não é simples, teremos que voltar no tempo, mais precisamente em 28 de novembro de 2010, quando houve a instalação da primeira UPP no complexo do alemão, com ampla cobertura da mídia e alegria geral do povo carioca, e constatamos que esse programa de segurança pública verdadeiramente é o que de melhor um governo já havia oferecido ao povo. O Rio de Janeiro ganhou nova respiração e esperança e acredito que foi aí que começaram os problemas entre as instituições que trabalharam para realizar essa invasão. Precisamos também lembrar que o exército foi tido como o grande articulador da invasão colocando as outras instituições como meros colaboradores, o que não é verdade. Quando começou a novela Salve Jorge em horário nobre na TV Globo, onde as primeiras cenas da novela mostravam a invasão do complexo do alemão, onde mais uma vez o exército foi mostrado como a grande estrela da operação. Imediatamente a polícia militar manifestou-se contra a novela de Glória Perez que só enaltecia o exército, e não considerava as outras entidades que participaram da invasão. Achei muito justa a reclamação. Mas o que tem tudo isso a ver com o caso Amarildo? Acho que tudo tem a ver, pois se pararmos para analisarmos os crimes da polícia e os casos que mais repercutiram na mídia com pessoas de comunidade ou não, nenhum caso teve a cobertura que esse está tendo. A riqueza de informações que está chegando à população é imensa, o que não é um procedimento normal quando se trata de crimes praticados pela polícia militar, podem até ter alguma repercussão na mídia, mas rapidamente são abafados e caem no esquecimento, mas esse caso do Amarildo está com cobertura quase que cinematográfica. O que eu concluo é que existe na realidade uma guerra acirrada entre a polícia civil e a polícia militar, pois em condições normais uma instituição encobriria os crimes da outra, é o que sempre vemos, mas nesse não. A necessidade de se denegrir a polícia militar, está muito claro, e sendo feito sabiamente pela polícia civil, e com isso está existindo até uma certa dúvida sobre ser a criação de UPPs (a PM é responsável pela implantação) o melhor programa de segurança pública e com isso respinga em Sérgio Cabral que com uma aprovação de mais de sessenta por cento nas últimas eleições tem hoje uma aprovação de doze por cento. Infelizmente tudo isso mais parece uma questão política do que uma questão humana, pois até agora nada de positivo foi feito em relação a família do Amarildo que não conseguiu sequer uma pensão. Devemos ficar atentos quando as questões humanas servem apenas como pano de fundo para um outro interesse que de humano não tem nada, e com certeza podemos constatar isso no caso Amarildo.

Dalva dos Santos
Enviado por Dalva dos Santos em 07/10/2013
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