ENQUANTO A CASA DORME
Noite passada, ventou muito por aqui, como moro ao lado de extensa mata, fiquei quieta ouvindo as árvores balançarem seus galhos, com força.
Em certos momentos, pensei ouví-las lamentando. Depois, o som pareceu-me de protesto, diante da força da ventania.
Em outros minutos, senti, que elas choravam atemorizadas, pela violência do vendaval.
Desde menina, gosto da noite, dos sons silenciosos, que a madrugada tem.
Em minha infância, morei em uma vila, que ficava dentro de uma reserva florestal, me lembro que lá, os ruídos de bichos eram tantos, que somente prestando muita atenção, eu conseguia identificar cada um. Os grilos, competiam com os sapos e as rãs, em uma cantoria que adentrava a madrugada.
Foi naquele tempo, que aprendi a perceber que há vida pipocando por todos os lados na calada da noite.
Por exemplo, sei, por experiência própria, que nas horas quietas, é quando as lembranças se mostram mais acordadas, e a saudade costuma despertar com força.
Inúmeras vezes, percebi, movimentos diferentes no silêncio ruidoso da madrugada.
Em certas ocasiões, quase pude tocar a presença de entes queridos que já partiram dessa vida, em horas que o relógio acusava noite profunda.
Aprecio demais, esses momentos, em que aparentemente a casa dorme.
É um hábito muito meu, adormecer tarde, somente para ter o gosto de compartilhar da companhia da madrugada.
Nessas horas, costumo ter verdadeiros encontros comigo mesma. E gosto disso, pois, sempre ressurjo melhor, mais serena, e leve.
Houve algumas vezes, que consegui me embrenhar com tanta vontade nas dobras profundas da noite, que pensei ter escutado, a voz dos objetos, a tecer considerações entre si.
Também, cheguei a presenciar, fatos estranhos, como algumas fotos deixadas em porta-retratos, ganharem vida, e sorrirem ou chorarem, enquanto me olhavam.
Dessas experiências, recuei, e não mais me permiti adentrar espaços, onde minha capacidade racional, não tinha condição de interpretar.
Mas, o silêncio ruidoso da noite e seus segredos, continuo a ouvir e sentir, e tenho uma satisfação imensa em usufruir desse tempo, que considero tão particular e rico.
Hoje, desfruto dos momentos da madrugada, sem culpa alguma, pois, não estou mais tão compromissada com os ponteiros do relógio. E, talvez por isso, ou quem sabe, pelo estudo sistematizado do lado espiritual da vida, ao qual venho me dedicando há tantos anos, ou de repente, pela sensibilidade que o tempo de vida me conferiu, ou talvez pela somatória dos três, tenho curtido, sentido, e percebido cada vez mais, os mistérios que a noite guarda.
(Imagem: Lenapena- Marley)
Noite passada, ventou muito por aqui, como moro ao lado de extensa mata, fiquei quieta ouvindo as árvores balançarem seus galhos, com força.
Em certos momentos, pensei ouví-las lamentando. Depois, o som pareceu-me de protesto, diante da força da ventania.
Em outros minutos, senti, que elas choravam atemorizadas, pela violência do vendaval.
Desde menina, gosto da noite, dos sons silenciosos, que a madrugada tem.
Em minha infância, morei em uma vila, que ficava dentro de uma reserva florestal, me lembro que lá, os ruídos de bichos eram tantos, que somente prestando muita atenção, eu conseguia identificar cada um. Os grilos, competiam com os sapos e as rãs, em uma cantoria que adentrava a madrugada.
Foi naquele tempo, que aprendi a perceber que há vida pipocando por todos os lados na calada da noite.
Por exemplo, sei, por experiência própria, que nas horas quietas, é quando as lembranças se mostram mais acordadas, e a saudade costuma despertar com força.
Inúmeras vezes, percebi, movimentos diferentes no silêncio ruidoso da madrugada.
Em certas ocasiões, quase pude tocar a presença de entes queridos que já partiram dessa vida, em horas que o relógio acusava noite profunda.
Aprecio demais, esses momentos, em que aparentemente a casa dorme.
É um hábito muito meu, adormecer tarde, somente para ter o gosto de compartilhar da companhia da madrugada.
Nessas horas, costumo ter verdadeiros encontros comigo mesma. E gosto disso, pois, sempre ressurjo melhor, mais serena, e leve.
Houve algumas vezes, que consegui me embrenhar com tanta vontade nas dobras profundas da noite, que pensei ter escutado, a voz dos objetos, a tecer considerações entre si.
Também, cheguei a presenciar, fatos estranhos, como algumas fotos deixadas em porta-retratos, ganharem vida, e sorrirem ou chorarem, enquanto me olhavam.
Dessas experiências, recuei, e não mais me permiti adentrar espaços, onde minha capacidade racional, não tinha condição de interpretar.
Mas, o silêncio ruidoso da noite e seus segredos, continuo a ouvir e sentir, e tenho uma satisfação imensa em usufruir desse tempo, que considero tão particular e rico.
Hoje, desfruto dos momentos da madrugada, sem culpa alguma, pois, não estou mais tão compromissada com os ponteiros do relógio. E, talvez por isso, ou quem sabe, pelo estudo sistematizado do lado espiritual da vida, ao qual venho me dedicando há tantos anos, ou de repente, pela sensibilidade que o tempo de vida me conferiu, ou talvez pela somatória dos três, tenho curtido, sentido, e percebido cada vez mais, os mistérios que a noite guarda.
(Imagem: Lenapena- Marley)