Esquinas
Sofro de encantamento por esquinas. É lá que se reúnem boêmios, loucos, mendigos, músicos, artistas e poetas. É lá que a vida pulsa. Sofro de amores pelos desalmados e andarilhos, os que percorrem de pés descalços as trilhas das tragédias mundanas. Sofrer é meu destino maior. Sofro até quando morrem as borboletas de tanto amar. Sofro quando os pássaros morrem de preguiça, quando uma criança morre de fome, quando morre uma mulher assassinada. Sou um maldito. E a sina de todo maldito é sofrer. Sofro e escrevo sobre desencontros, sobre o que não existe, sobre o que não interessa, o que não presta. Minha escrita não serve pra nada. Já balbuciaram que não compreendem o que eu digo. Perdi o sono por trinta dias. Não me entendem porque escrevo sobre o simples, sobre o desnecessário. Pessoas eruditas demais. Preferem os intelectuais complexos, tipo Paulo Coelho. De tão simples, um dia habitarei uma esquina. Contarei estórias e cantarolarei com os loucos. Vou pedir esmolas e escrever poesias. Lá quero minha morte, humilde e lenta. Pode ser em uma esquina qualquer, desde que tenha o cheiro do wisky bebido por Vinícius de Moraes.