O título do livro e os semióforos
Andei atarefado e desanimado ultimamente: atarefado, porque estava pesquisando e escrevendo a monografia da pós-graduação “lato sensu” em Direito Administrativo; desanimado, porque – não sei por quê – sempre fui mesmo meio melancólico, o que às vezes fica mais acentuado por algum tempo. Daí o não ter cronicado nesses dias (sim, “cronicado”, gosto do verbo cronicar e o emprego quase sempre por mera e benigna provocação de quem não o conhece).
Como terminei hoje a monografia, voltarei agora às crônicas, porque, melancólico irresignado, uma das coisas que mais me dão prazer na vida é escrever. Vem daí o título “De pé por causa da palavra: crônicas escolhidas”, que dei a um dos meus livros de crônicas, pois, no ápice das minhas angústias, refugio-me humanamente falando no escrever. “De pé por causa da palavra” foi escrito, se não todo, quase todo, ao longo do período em que sofri acentuadamente a depressão provocada – se não provocada, pelo menos em muito aumentada – pela cardiopatia que me acompanha desde 2008.
Naqueles dias terríveis, escrever, mesmo sem abordar a depressão, era uma forma de me sentir vivo, de pé e atuante. Ainda é, claro. Interessante que, embora não soubesse disso, meu cardiologista, Dr. Cesar Antonio Rodriguez Montes, ao me receitar o antidepressivo que me tiraria da crise, recomendou-me buscar a ajuda de um psicólogo e, além disso, dedicar-me ainda mais às coisas de que mais gostasse, citando ele mesmo o ato de escrever crônicas. Mal sabia ele o porquê da escolha do título “De pé por causa da palavra” para um dos meus livros.
Hoje, pensando sobre o assunto, resolvi que “Dia de Sol” será o título de meu próximo livro de crônicas, que, embora não saiba quando virá a lume como livro, já está sendo escrito desde o início de 2013. “Dia de sol” foi uma crônica que, dia 17 de maio de 2013, escrevi sem muita pretensão, publiquei nos meus blogues e depois gostei muito. Continua fazendo sucesso entre os leitores e dará, por isso, título ao livro.
Pois bem. Agora, com mais tempo livre, voltarei às leituras literárias (Direito também é literatura, mas literatura com outra acepção, evidentemente), bem como à arte de cronicar, embora seja bem verdade que não se possa dizer “oh, que artista!”, mas isso é outra história. Já diz Leandro Konder: “Quem lê poesia, romances, peças de teatro, ensaios, crônicas, de fato está lendo a vida.”
Estou lendo “Filosofia da linguagem”, de Sylvain Auroux, tradução de Marcos Marcionilo, da Parábola Editorial, presente que a Câmelha me trouxe de Belém, na viagem mais recente. Aí vão duas frases das que já sublinhei com tinta vermelha: “O homem se define pela linguagem e pela razão, o que significa que, sem linguagem, não haveria racionalidade” e “A razão e a linguagem são, indissociavelmente, os atributos próprios da humanidade”. Elas dizem muito, mesmo retiradas do contexto.
E os semióforos?... Bom, pus “semióforos” aí no título, apenas de brincadeira, para chamar a atenção, conquanto os semióforos existam. São estudados na Filosofia e no Direito, por exemplo, e têm muito que ver com patrimônio cultural, que foi assunto da monografia recém-concluída. Poderão ser objeto de outra crônica.