Não faz verão

Na tarde deste sábado, um sábado de primavera, a andorinha achou por bem entrar na Biblioteca Nacional de Brasília. Não fez cadastro e não parou para pedir informação: foi logo entrando. O que teria ela visto de interessante na biblioteca? Acaso teria sido atraída pela notícia de que, depois de quatro anos, a biblioteca inovou e agora conta também com livros? Ou quem sabe, como todo mundo por aqui, ela também tenha como grande meta na vida passar em um concurso público, qualquer concurso público, independente do que precise fazer, e por isso tenha entrado para estudar? Nada sei, pois esta era uma andorinha particularmente tímida, pouco dada a explicações de qualquer natureza. Apenas voava pra lá e pra cá, em silêncio, sem incomodar ninguém.

Mas quando ela tomou o rumo da sala dos computadores eu tive certeza que se tratava de uma andorinha financeiramente desfavorecida, que queria apenas usar a internet gratuitamente. Provavelmente gastaria a tarde inteira jogando, conversando no Facebook ou vendo vídeos no You Tube. Ou então simplesmente descansaria e tiraria um cochilo em cima do teclado, que é outro dos serviços prestados pela biblioteca. A verdade é que nada disso ela fez, se limitando a esvoaçar por toda parte (devo dizer que de forma um tanto atrapalhada, como se não soubesse bem o que fazer).

Será possível que tenha entrado na biblioteca simplesmente procurando insetos? Não temos muitos por aqui. Ou talvez queira apenas avisar a nós brasilienses que, finalmente, depois de dias tão abafados, é chegada a hora da chuva? Louvo-lhe a intenção, mas se assim foi eu sinto dizer que está perdendo o seu tempo. Na sala de computadores não houve uma única alma que tenha levantado a cabeça e observado o seu passeio. Também não há registro de alguém que ao vê-la tenha sorrido levemente e pensado com graça “veja que coisa! um passarinho entrou aqui! será que ele vai encontrar a saída?”. Sabe como é, andorinha: você sozinha não faz verão.