A DIFICULDADE DO DOGMA.
Dogma é um fundamentalismo acerca de religião ou ideologia. Do grego o vocábulo, indicando aparência, o que desemboca em supor, pensar acerca de, imaginar algo e se colocar imperativamente no que entende, sem possibilidade de discutir esse posicionamento.
Considerando a fantástica entrevista do Rabino Steeinsaltz, que traduziu o Talmude em quarenta e cinco anos, fiz interlocução em email que reproduzo.
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"Sobre nosso diálogo, como reporta o rabino e ensina o Talmude, “convite ao diálogo”, resolvi fazer um apanhado sobre dogma pensando em nossa proveitosa conversa, interlocução, que te mando depois. O assunto era filosófico, “questionamento da realidade”, ponto central da entrevista. Imagina, o que não apraz ao rabino discorrer, filosofia, e do que sabe tudo e mais alguma coisa. Não é para ler e formular entendimento, não tenho nenhum diante do que ele formulou, só estou vivendo o que disse e dando elastério. Sou acanhado e pequeno para achar alguma coisa sobre o que ele ensina. Mas não era religioso o centro nervoso por ele manifestado, mas como você penetrou na religião, só quero acrescer algo mais, para não ficar omisso em possível didática. É obrigacional com meu temperamento. Vou tentar lidar com isso, não sou muito bom, uns dizem que sou, eu acho que não, sou exigente, quero universalidades, é sempre difícil atingir objetivos explicativos, já deixei de dar aula em curso para ingresso na magistratura por não atingir todo o alunado, como queria. Mas vamos ao ponto do dogma e do fanatismo como o ateu, que quer ponderar e discutir sobre o que para eles não existe. Como vou discutir com e sobre o que para mim não existe. Para mim estaria caminhando o caminho da idiotia. Não te parece um absurdo, pois é um absurdo, são assim os dogmáticos, discutem sobre o que dizem inexistir. Pior, negam o inexistente e o consideram. É cômico para quem percebe. Isso é fundamentalismo ignaro, esta a clareza do mestre em sua exposição. É mais que circular o que disse, enciclopédico, não fica preso nas paredes de uma breve entrevista, expande-se na reflexão para nossos pensamentos. Assinalou partidas, peguemos o itinerário.
Mas vamos a exemplos com nós mesmos. Creio na consubstanciação, “pão, hóstia santa”, fenômeno transcendental, basta um fato distante da fé, o milagre de Lanciano, Itália, Toscana, que balança e instiga, acho que já te referi, se não registrei para vc me fale. Minha crença é irreal, não faz parte do mundo da realidade, é profissão de fé. Eu suponho e fico forte na fé que meus credos me satisfazem, mas não são reais. Os dogmáticos não só supõem, querem como real a suposição, e ficam além da realidade e querem a suposição como verdadeira. Disso falou o rabino. Não se cuida das descobertas da ciência e de seus progressos, não tratou disso o rabino, repito mais uma vez, para clarear, nem desmereceu progressos científicos, necessários, ele é cientista das exatas, e o disse. Um fato só para referendar a impropriedade do dogma, o big bang. Suposição, querem ir além, não conseguem e nunca conseguirão chegar a menor partícula, do que átomos, quarks, etc, agora “bóson de Highs”. Mas a universalidade acena para uma forte alocução, “ a partícula de Deus”, continuam a procurá-la como se fosse possível ter aceso ao abstrato. Suposição, infantilidades. Como se iniciou a vida? Como se forma o pensamento?
Dogma é crer religiosa ou ideologicamente em ponto fundamental e indiscutível. Fundamentalismo, indiscutibilidade, falta de liberdade de pensamento mesmo próprio.
E surge você e a religião como exemplaridades, vamos abordar. Você um espiritualista que já me disse falar com os espíritos. Dogma ou fé? Como dizem o Talmude (livro inexpugnável, muitíssimo complicado, a “Crítica da Razão Pura" de Kant, dificílimo de compreender, é curso primário diante do Talmude) e o rabino, um convite ao “Vou pensar sobre isso”, é minha postura. E penso, fico a pensar. Você sabe a resposta, é artigo de fé seu. Eu penso não saber, nota a diferença. Nada sei sobre isso e não sei sobre o que os outros sabem, não posso saber, ainda que você saiba e me passe, sabe para você, não sou dogmático ao ponto de dizer, que é bom estar com as entidades abstratas, falar com elas, crer como fez São Tomé sem tocar. Não sou dogmático, creio que vc crê e é bastante no anfiteatro de "questionar realidades". É mais fácil a realidade não questionada, personalíssima. Ciência é dogma, dogma bobo, quase infantil, os deuses-cientistas são tolos por serem dogmáticos. Se chegam a algo pelo dogma supõem mais....Me devia trazer esse complemento para você, crédito seu e dívida minha, se não consegui explicar me perdoa, o foco era outro, questionar realidades, mas tentei mudar o eixo para melhorar a didática. E vou alinhar em alongada crônica essa troca rica. Um abração, e é um prazer a nossa troca, aliás, como quer o Talmude. Celso"
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EMAILS ANTERIORES.
Vamos ao diálogo que a realidade e seu questionamento propõem. O socrático "sei que nada sei" leva ao "não sei". Não sei (olha o não sei aí) se vc conhece a maiêutica de Sócrates, é mais ou menos isso, a ciência não é insana, é pouco, é gigantescamente insana a ciência, em todos os níveis, isso eu entendo bem, não preciso dizer "não sei", o questionamento da realidade por esse passo não me assusta, tomba serena sob meus sentidos. Religiosos - excluídos os terroristas, que se imolam, e matam - não são fanáticos, dizer que vc, religioso espiritualista é fanático, é a mesma coisa, ou pior, que um padre, rabino, etc, são fanáticos. Não são, religiosos não são fanáticos, os dogmáticos são fanáticos. Por quê? Vão além da realidade, e supõem, e só, percebe. Fanáticos são ateus cientistas, só para focar como religião e não se cuida disso. Não se contesta o que se nega, entende, se não existe, nem se nega, muito menos se discute. Discutir sobre o que se nega por afirmar que não existe é fanatismo, claríssimo. Papo cabeça não? Abraço. Celso
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Date: Thu, 3 Oct 2013 22:01:55 -0300
Subject: Re: ESTUDANTE SE NEGA A ESCREVER SOBRE MARX
From: paulorobertoxango@globo.com
To: celso-panza@hotmail.com
Só para complementar o meu raciocínio, entendo que não há insanidade na ciência. A meu ver, a alma da ciência é justamente supor que as coisas são muito maiores do que aparentam ser. É o que estimula a busca as pesquisas e seus resultados trazem tudo que de bom a humanidade vem recebendo da ciência. Justamente com base no Socrático, "não sei" é que a ciência não se acomoda e segue em frente. Ainda, o cientista não é mais dogmático ou fanático do que um padre, rabino ou outro religioso do nível.
Como ele bem diz, a sanidade está em conciliar e manter o equilíbrio de coisas diferentes. O equilíbrio da pluralidade não será encontrado pelas religiões pois elas se antagonizam, cada uma, como donas absolutas da verdade. O velhinho é brilhante. Suas posições são um estimulo ao pensamento livre.
abraço .Paulo