Piada Sem Graça
Cheguei em casa depois de um dia longo de trabalho e estudo, muito cansada. Tomei um banho gostoso e demorado, deitei na minha cama, apanhei o notebook e liguei a TV. Às voltas com algumas coisas na internet, nem prestei muita atenção ao que se passava na TV. De repente ouvi a música que anunciava a novela da Rede Globo, Amor à Vida, e comecei a prestar um pouco mais de atenção, mas sem deixar os meus afazeres no computador.
Um pouco mais atenta à novela, assisti a uma cena que me provocou verdadeiro nojo: A enfermeira Perséfone, personagem da atriz Fabiana Karla, está namorando o fisioterapeuta Daniel, interpretado pelo ator Rodrigo Andrade, ela, como sabemos, é uma mulher bonita, contudo gorda. A família do Daniel age de forma inescrupulosa, preconceituosa e nojenta, quando afirma que não aceita este namoro por que a pretendente do seu filho é gorda!
Eu fui tomada de grande susto, de grande ânsia por tal postura. Sabemos que é “apenas” uma novela, mas que transcreve o pensamento pessimista, preconceituoso e jocoso de muita gente. Então eu comprei esta afronta por que eu sou gorda e fico injuriada quando alguém me julga ou julga qualquer outra pessoa pelo tamanho do seu manequim, pelo tom de sua pele, pela sua conta bancária ou pela sua orientação sexual.
Sabemos que o tom pilhérico e preconceituoso citado pelo pai do Daniel é o que realmente passa na cabeça de muita gente: ele vai ser motivo de piada... O namorado “da gorda”! Então o fato dela ser gorda implica em ser sozinha e não ter direito de ter um namorado, direito de ser feliz e constituir um relacionamento como os “magros” constituem?
Essa cena mexeu diretamente com os meus brios, pois me incomoda, e sempre me incomodaram, desde a mais tenra idade, os apelidos de mau gosto, as brincadeiras preconceituosas que tive que carregar durante toda a minha vida, com um agravante muito maior na adolescência, por que as pessoas sempre me apelidavam, me excluíam e me tiravam como “a boba da corte” por ser gorda. E me questiono: o tamanho do meu manequim interfere na minha capacidade cognitiva? Eu, a Fabiana Karla, ou qualquer outra pessoa que está acima do peso, deve estar enfadada ao fracasso, à infelicidade e subjulgada aos próprios sentimentos reprimidos e sem direito de vivê-los?
Assim como temos visto pessoas gritando aos quatro ventos sobre os direitos, sobre o respeito e sobre o espaço social dos negros, dos homossexuais, dos indígenas, dos portadores de deficiências, dos idosos, também venho aqui gritar por respeito aos obesos. Respeitar o outro como ele é, independente do seu peso, da sua cor, da sua raça, da sua orientação sexual. Respeitar o gordo sim, deixar os apelidos preconceituosos e nefastos que só trazem prejuízos morais e psicológicos aos portadores de obesidade.
A humanidade precisa caminhar para a posteridade isenta de crendice e ideologias vagas, ocas, sem propósito de diminuir ou desfazer do seu semelhante por questão tão efêmeras. E este caminho só será possível a partir do momento em que formos, unanimemente, conscientes do nosso papel social e do respeito mútuo que existe, ou que deva existir, pois eu sempre costumo falar: respeito é uma via de mão dupla, enquanto um vem, o outro vai e a quebra desta sintonia deixa o tráfego bagunçado. Então meus caros, pratiquemos o respeito às diferenças!
São Paulo, 01 de outubro de 2013.