COMEÇO, MEIO E FIM…

Ele se parecia comigo, uma versão mais velha e sábia. Alguém que eu poderia vir a ser, por isso o mundo arranjou aquele encontro. Ele tinha uma história para contar e eu, uma lição para ouvir.

- Perdi a mulher que amava para a vida, mas essa é uma história de amor com final feliz. – disse ele, tomando seu café.

- Como pode ser uma história com final feliz se vocês não estão mais juntos? – Perguntei.

- Por ter conseguido aceitar que ela precisava ir...

Quando ela foi embora, alguma coisa quebrou dentro de mim – poderia dizer que foi o meu coração – mas descobri que o que quebrou foi um jarro de vidro repleto de apego. Sim, o apego é um jarro que vai se enchendo à medida que nos apaixonamos.

Quanto mais apaixonados estamos, mais cheio fica o jarro e a cada briga, cada ameaça de separação, o corpo aciona o alarme, mandando os nervos carregarem a mensagem: perigo!

Perigo porque quando o jarro se quebra, estilhaços de apego envenenam o sangue da razão, deixando o castelo aberto para a invasão do exército das emoções que aterrorizam o pobre apaixonado com ameaças de solidão.

Acontece que a solidão só assusta quem tem medo de ficar sozinho. Oxalá, todos vivessem bem sozinho, assim na ocasião de uma separação, não haveria tanta amargura, tanta briga, tanto apego e sim apenas um bye bye, so long, well well. Não haveria um buraco tão profundo e escuro esperando quem foi deixado. Eu nunca soube viver sozinho e paguei o preço.

Quando ela disse adeus, caí nesse buraco e percebi que perdi o controle das lágrimas. Tomei um banho de choro e essa chuva não lavou minha alma, porque era água do jarro que quebrara e quem chora por apego, chora por si mesmo e não pela pessoa amada.

O amor deixa ir, o apego exige ficar.

O amor é oculto, o apego é presente.

O amor não espera retorno, o apego é carente.

O amor é ouvir, o apego é falar.

O amor é respirar, o apego é sufocar.

O amor é atemporal, o apego faz aniversário.

O amor deixa ser, o apego é estar.

O amor é aprender, o apego é só querer ensinar.

Foi isso que aprendi, pois quando ela me deixou, liberou a força do meu amor que estava sufocado no peito, tentando respirar. Esse amor agora exige que eu continue a viver, vivem bem comigo mesmo. Esse amor é o amor por si próprio que todos deveriam sentir. Coisa que nunca fiz, mas já está na hora de aprender e começar. Por isso te disse que essa história tem final feliz. Quem não aprende a viver sozinho, passa toda a vida apegado a idéia de ter alguém para nunca estar só.