Para quem o celular toca ?

Joguei a toalha, não teve jeito. Resisti o quanto pude. Mas não tenho como levar esta rebelde determinação adiante. Comprei um celular. Acreditem...só agora ! Não me incomodava com as provocações, com os questionamentos ou com a solidão tecnológica. Nem imagino quantas vezes ouvi :

- Como você agüenta ?

- Que comportamento pré-histórico !

- Só tem “orelhão” na cidade por sua causa.

- Até meu pai, minha avó, meu sobrinho, meu gato....tem celular!

Conhece aquela pressão social para que as pessoas namorem, casem-se e tenham filhos ? Acreditem existe também para que possua um celular. O banco constantemente me oferecendo trocar meu cartão com códigos, por um aplicativo no celular – sem custo algum. O croqui para confeccionar cartão da empresa com um espaço em destaque para inclusão do celular. Durante uma espera de 15 minutos em um laboratório na semana passada, notei que em todos os atendimentos a pergunta era direta, qual o número do celular, jamais se a pessoa o possuía. Há um mês fiz um cadastro on-line destinado a ressarcimento de um valor, e para concluir precisava confirmar os procedimentos informando um código que seria enviado para o “meu” celular. Quero deixar claro que não se trata de uma crítica contra o equipamento em sí, até presenteei meus filhos e ajudo minha mãe a usar o dela. O problema é exclusivamente pessoal meu.

Apenas quando se compra e precisa usar cartão telefônico notamos a quantidade de “orelhões” que não funcionam. E somente quando se está usando calças brancas nos incomoda a necessidade de dar uma breve limpadinha antes de colá-lo à face.

Depois que me desloquei 24 quilômetros nesta cidade intensa e apressada e paradoxalmente lenta, para ouvir que estavam me ligando (no fixo) para avisar que o evento fora adiado e ao retornar encontrei um bilhete na mesa dizendo que minha mãe tinha ido viajar, a tecla STOP foi acionada. E se fosse uma emergência médica ?

O mundo mudou, as necessidades também. Até as pedras mudam... quem sou eu para resistir eternamente ?

Será o fim dos meus momentos de fuga, de paz, de namorar-me em um parque, ou nas caminhadas sem destino ? Respondo-me que não, afinal eu pretendo dominar o aparelhinho, não o contrário. Dizem que é devido a minha natureza sagitariana, não sei. Penso que seja apenas o meu senso de liberdade que já se sente estrangulado, apesar disso estou focando nos benefícios inerentes à esta aquisição.

Mãe, filhos, amigos e chefes em comemoração já foram avisados... não me liguem substituindo o automático “Alô” ou o simpático “ Olá” pelo repressor “onde você está ?”.

Enquanto isso, vou me familiarizando com o meu amiguinho ainda rejeitado. É complicado entender que os sinos dobram por mim agora !

Atende.... !!

Letranda
Enviado por Letranda em 03/10/2013
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