Fênix
 
                                  Rosa Pena
        
 
Quando você chega à estação da vida em que percebe que o mais importante é o que você quer e não o que terá a aprovação coletiva, você está pronta para estrear seu casaco de couro ao meio-dia em plena calçada de Ipanema. Não faça por menos. Assobie o Sinatra, paquere o surfista e manda à luta quem está sempre com aquele arzinho de crítica. Pra derrubar tem sempre um monte. Experimente comentar que está quase cega e aparece logo amigos, conhecidos, desconhecidos, o primo do seu vizinho, pra consolar. Agora diga que conseguiu entrar no manequim 40. Será olhada como se fosse tripolar!

Você já criou seus filhos e agora eles a enxergam com o mesmo jeitinho que você os enxergava quando crianças. Com condescendência porque você esqueceu o nome de alguém ou seu joelho bichou. Pedem sua opinião com a questão já resolvida. Sorriem com um beijo mais audacioso que você dá: — Que velhinha sapeca!

Sua consciência sabe que você não tentou se eleger presidente, jamais colocou euros na calcinha, não matou nenhum mico-leão-dourado, muito menos jogou petróleo no Atlântico. No máximo fez xixi e ácido úrico não é muito poluente. Ou é? Esqueça essa parte e retira da memória os feitos na piscina. Faça cara de inocente! Quem? Eu? Quando? Que atire a primeira lata quem nunca comeu sardinha!

Deixe que pensem que você vive totalmente alienada e  imaginou que o efeito estufa foi feito, de propósito, pra cultivar bem as plantinhas.

É o retorno do seu Gugu Dádá. Você virou criança ou débil mental. Quem já ultrapassou os cinqüenta sabe bem o olhar do jovem para as tias desconhecidas num mercadinho ou num sinal. Aquele olhar de dó por imaginarem como é difícil conferir um troco ou enxergar um caminhão.

Antes que eu esqueça:
 — Tirando meus sobrinhos à vera: Tia é sua avó!

Sinta-se uma rainha e siga em frente. Se desanimar, lembre-se que nem as baratas ficaram de fora da arca.

A mulher do Noé foi um bocado tolerante. Ainda dá pra acreditar na plebe.
A vida é um inferno, mas você é uma brasa, mora?

Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 15/04/2007
Reeditado em 13/11/2012
Código do texto: T450830
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