Fênix
Rosa Pena
Você já criou seus filhos e agora eles a enxergam com o mesmo jeitinho que você os enxergava quando crianças. Com condescendência porque você esqueceu o nome de alguém ou seu joelho bichou. Pedem sua opinião com a questão já resolvida. Sorriem com um beijo mais audacioso que você dá: — Que velhinha sapeca!
Sua consciência sabe que você não tentou se eleger presidente, jamais colocou euros na calcinha, não matou nenhum mico-leão-dourado, muito menos jogou petróleo no Atlântico. No máximo fez xixi e ácido úrico não é muito poluente. Ou é? Esqueça essa parte e retira da memória os feitos na piscina. Faça cara de inocente! Quem? Eu? Quando? Que atire a primeira lata quem nunca comeu sardinha!
Deixe que pensem que você vive totalmente alienada e imaginou que o efeito estufa foi feito, de propósito, pra cultivar bem as plantinhas.
É o retorno do seu Gugu Dádá. Você virou criança ou débil mental. Quem já ultrapassou os cinqüenta sabe bem o olhar do jovem para as tias desconhecidas num mercadinho ou num sinal. Aquele olhar de dó por imaginarem como é difícil conferir um troco ou enxergar um caminhão.
Antes que eu esqueça:
— Tirando meus sobrinhos à vera: Tia é sua avó!
Sinta-se uma rainha e siga em frente. Se desanimar, lembre-se que nem as baratas ficaram de fora da arca.
A mulher do Noé foi um bocado tolerante. Ainda dá pra acreditar na plebe.
A vida é um inferno, mas você é uma brasa, mora?