Grilos, grilos, e mais grilos.
Grilos, grilos, e mais grilos.
“Grilo na cuca, o meu coração é uma bomba atômica, a minha canção é super, supersônica...”. Para lembrar essa música é preciso ter no mínimo uns quarenta anos e ter assistido ao programa “Qual é a música?”, que passava nas tardes de domingo na antiga TVS, que depois virou SBT, sob o comando de Silvio Santos. “Porra, o cara assistia a esse programa?”; “Não teve infância esse sacana”. Você deve estar afirmando isso agora, neste exato momento. Mas, você está enganado, minha infância foi muito boa e divertida. Soltei pipa, joguei bolinha de gude na areia do parquinho, joguei bola no gramadão, andei de carrinho de rolimã, brincava de pular carniça. No entanto, tinha aqueles domingões chuvosos em que eu ficava em casa assistindo televisão, emendava o “Domingo no Parque” com o “Qual é a Música?”, e este cantor sempre estava lá, o digníssimo Dudu França. A canção é um som de discoteca, típico da década de setenta, meio “Dancin’days”, misturado com um “roquezinho” sem vergonha. Bem, mas o que tem a ver o nobre cantor, minha infância nos dias de domingo e os programas do Silvio Santos, com o texto? Nada. É isso mesmo, não tem nada a ver uma coisa com a outra. Eu tenho essa mania, - mania feia, confesso -, de enrolar um pouco quando acho que o texto ficará curto. Deixarei de enrolação e vou ao que interessa. Eu quero falar mesmo é sobre os grilos, por isso, escrevi a letra da música. Contudo, não é sobre os “grilos na cuca”, preocupações e coisas do gênero que quero falar, e sim sobre os grilos de verdade, os insetos, mais precisamente o grilo-preto, o Gryllus assimilis. A minha cidade está infestada deles. Não só a minha, muitas outras aqui da região e penso que de todo o estado de Sergipe. Esses bichos chegam com a primavera, estação de sua reprodução, e invadem as cidades. Não tô falando de uns grilinhos à toa; estou falando de muitos grilos, com certeza centenas deles, talvez milhares desses bichos feios, puladores e “zuadentos”.
Todo dia de manhã, na hora de varrer e limpar a casa/consultório em que resido, são retiradas várias pás cheias de grilos. Eles estão por todos os lugares. Atrás das portas, dentro das pias, dentro do guarda-roupa, dentro dos sapatos, escondidos em reentrâncias do chão, paredes e janelas, em baixo e em cima do sofá, por trás das almofadas, em baixo e em cima da cama, e os menos tímidos andam, cantam e pulam pelo meio da sala, cozinha, quartos e banheiros, na maior cara dura. Uma sinfonia dos diabos. Acordei na madrugada de hoje pensando que estava no interior de uma floresta, tal era a cantoria destes “félas”. E o cheiro? Puta que pariu, os sacanas fedem pra caralho, e quando morrem e ficam em algum lugar que não vemos e apodrecem ali, o futum é igual à de carniça de bicho grande, fedor pra urubu nenhum botar defeito. Sinistrão.
O pior momento é quando eles caem em cima da gente. Normalmente quando estamos desprevenidos, assistindo a um filme, relaxadões, deitados na cama, com o Notebook no colo e tal. Aí vem aquele susto danado (Ui!), que te deixa muito puto, e faz você matar os sacanas, tá ligado? Eu gosto de prendê-los na palma da mão fechada e jogá-los contra a parede e escutar o “plof”. Isso me faz bem pra caralho! (Espero que eu não seja processado pela sociedade protetora de grilos por essa confissão). Tem uns que são valentes, pulam em cima da gente, e quando vamos revidar com uma tapa para afastá-los ele voltam com tudo pra cima, os “felás”.
Eu estava lendo que em alguns países, eles, os grilos, são criados como bichos de estimação, presos em gaiolas, feito passarinhos e expostos nos lugares mais bacanas da casa. Tem maluco pra tudo, não é mesmo? Também são usados para brigar. É isso mesmo, briga de grilos, do mesmo jeito que existem brigas de galos. Deixam os bichos sem alimento por um tempo e os colocam para lutar uns com os outros. O bônus do vencedor é devorar o oponente derrotado. Doideira. Outra coisa que descobri é que só os machos cantam. Cantam para chamar a atenção das fêmeas. Aqui em casa deve tá rolando um surubão daqueles todas as noites. Os chineses acham que quando um grilo pousa no corpo de uma pessoa é sinal de sorte. Se eles tiverem razão, este ano eu deverei acertar os seis números da mega-sena da virada, sozinho e acumulada.
A coisa é seria mesmo, os grilos invadiram a cidade sem nenhum pudor ou bom gosto musical. Só nos resta esperar eles sumirem, já que do mesmo jeito inesperado que eles chegam, eles se vão. É ter paciência e aguentar a orquestra nada sinfônica nos ouvidos. Cric, cric, cric, cric, cric...