UMA VIDA DE CÃO DE UM CÃO

Depois de percorrer léguas no sol quente, sempre com a língua de fora, enfim sombra e água fresca, ou melhor, somente a sombra, pois a água estava muito distante ainda para um pobre cão que estava perdido numa selva de pedra e trânsito engarrafado. Eu o havia seguido de moto, de longe, querendo saber aonde ia e o que faria depois. Parado numa sombra de árvore ele observava os carros, se assustava às vezes com buzinas e não se incomodava com meio mundo de gente perto dele. Enquanto ele estava na sombra, descansando com certeza, eu estava no sol, parado, guardando uma certa distância para não ser identificado pelo animal.

Passaram-se alguns minutos e eu resolvi me abrigar na sombra de um poste. Em seguida o cão resolveu reiniciar a caminhada e foi parar exatamente na entrada do prédio onde eu e minha esposa alugamos recentemente, já que ficava próximo do trabalho dela. A casa onde morávamos ficou com os filhos, que não dispunham de tempo para cuidar de “Rex”, que ficou conosco no prédio no centro da cidade. Como o síndico proibiu a permanência dele no prédio, tivemos que dar um jeito de deixá-lo na casa do subúrbio, com alimentação e água. Essa foi a terceira vez que “Rex” chegou sozinho ao prédio e nessa última eu decidi segui-lo por vários quilômetros de distância e checar a capacidade desse animal de estimação de procurar a companhia de seus donos, me fazendo ficar com ele na casa do subúrbio e desistir do prédio alugado.

“Rex” não vai mais “reclamar” da nossa companhia e nem vai mais precisar fugir, enfrentando sol e trânsito conturbado na cidade.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 02/10/2013
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