Decididamente sou uma sortuda. Nasci num paraíso com direito a praias paradisíacas quase desertas. Acredite!
Domingo me bateu uma vontade de fazer algo novo. Garimpar novos lugares de uma maneira diferente. Nada de buscar restaurantes que garantissem uma boa refeição. Tudo tinha que ser novo.
Na mala do carro, uma churrasqueira comprada no sertão à espera de sua estréia, um enorme guarda-sol que deveria me proteger, uma geladeirinha manteria as bebidas bem geladinhas e também porções de carne e peixe. Uma vara de pescar fazia parte da muamba. Duas cadeirnhas, um tamborete que faria às vezes de mesa e uma manta para cobrir a areia caso o sono me pegasse. Não podia faltar o sal, o carvão e a pimenta. Estava armado o circo.
Como se estivesse tudo traçado, deixamos o caminho oficial das praias do sul e nos aventuramos numa estradinha estreita e bastante esburacada. Parecia que estávamos sendo guiados, fomos seguindo.
De repente, um susto. A estradinha acabava. Onde? Exatamente acima de uma linda falésia colorida. Abaixo a praia mais linda do mundo dividia espaço com um maceió. As àguas verdes do mar tocavam o azul da àgua do maceió. Por vezes pequenas ondas, quase espumas, se arriscavam a entrar no rio formando um azul esverdeado ou um verde azulado. A descida até a praia requeria cuidados, mas enfim lá estávamos nós a desfrutar de um paraíso particular.
Como por encanto, saindo talvez de minhas lembranças de criança, o que aparece? Simplesmente um vendedor de pirulitos, desses que vendiam na táboa. Era demais. Numa praia deserta, aparecer um bucólico vendedor de pirulitos. Onde os compradores? Deu vontade de comprar toda a tábua e me empanturrar de açúcar e lembras, doces lembranças..
Depois de tudo arrumado era tempo de uma exploração detalhada do local. Paqueviras amarelas e vermelhas alegravam a vegetação. Como a proteger a pureza do lugar, umas falésias coloriam e escondiam a praia que de tão grande, perdeu-se no nome: Carapibús.
O banho no rio foi inevitável. A àgua estava morna, a areia macia. O silencio... Ah, o silencio. Só o barulho do vento e o marulhar das ondas, nada mais. Logo o cheirinho dos assados encheu o ar ativando o apetite. Saciada a fome tentei escrever alguma coisa... Precisava. Não deu. Precisava viver àquelas horas tão perfeitas até o fim. Precisava me embriagar de poesia, gastar toda minha retina naquele cartão postal. E foi exatamente o que fiz. Só agora, com a praia deserta de Carapibús a me enfeitiçar tento escrever um pouco, mas não encontro palavras. Fica essa foto. Julgue!