Lixo ou Luxo?

Certa vez presenciei uma discussão, não em tom amistoso, mas em tom jocoso, imbuído de muito preconceito acerca da Língua Portuguesa. Não a Língua Portuguesa em sua integridade e essência, mas a Língua Portuguesa falada por nós brasileiros. Os ditames do discurso pilhérico classificavam a nossa Língua como chula, com lixo, uma fala pobre e que envergonha os países que também falam o Português, principalmente Portugal, tido como o berço do idioma, aquele Português falado na Europa, carregado de sotaque, bem semelhante ao linguajar lusitano.

De uma maneira muita seletiva, quando eu renunciei ao sangue europeu e escolhi o Brasil como a minha “pátria amada”, o “meu português” foi selecionado como a minha língua idolatrada e que não me faz nenhuma vergonha. No Brasil há vários povos, há a mistura de múltiplas raças, miscelânea de cores e sabores que enaltecem o meu falar. A minha Língua é muito rica, e quando a ouvimos de cá para lá e de lá para cá, notamos a diversidade que compõe o nosso linguajar, o luxo que é “brasilizar”!

Quando abdiquei do inglês, do francês, do germânico e do latim, eu já tinha imprimido em mim, em minha alma, o Português latente, valente e benevolente. Quando escolhi a minha pátria, a minha Língua destacou-se como as características da personalidade múltipla de nossas raças, oriunda das andanças dos povos mais diversos que compõem a minha nação. E no final, não importa se sou negro, se sou branco ou mulato, mas o importante é que Português eu sei falar. Cada membro do meu corpo compõe um pouco de cada povo, de cada nação: o coração é lusitano, o baço é angolano, o fígado vem lá de Cabo Verde, o pé é moçambicano, se a mão é de Guiné, o nariz é brasileiro... Mas nada disso importa, por que no final, toda a Língua é Portuguesa.

Quando idolatramos uma pátria e nos orgulhamos da nossa língua, não há crítica que não seja rebatida, pois todo o amor patriota é sempre exaltado. A diversidade sociolinguística, no contexto em que estamos inseridos, torna o diferente muito mais atraente, muito mais interessante, pois o diferente não nos limita, muito menos nos ridiculariza, mas nos agrega valores da nossa cultura, da nossa raça e da nossa história. Num mundo em que o diferente tem cada vez mais notoriedade, é indispensável manter vivo o meu sotaque, a minha marca registrada, pois é sinônimo do que fui, do que sou e do vou continuar sendo.

Lara Almeida
Enviado por Lara Almeida em 30/09/2013
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