Trinta de Setembro
Hoje é feriado no país de Mossoró. Segundo maior feriado da cidade. Maior é o treze de dezembro, dia de Santa Luzia, nossa padroeira. Aqui o dia da emancipação política, data magna em qualquer município, só virou feriado há pouco tempo, se não me engano há dois anos. Antes não havia “consenso” entre os historiadores. Pois é, uma cidade que respira e transpira “história” se perdia em sua própria narrativa, mas assim é o país dos “monxorós*”.
A festa da Liberdade acontece durante todo o mês de Setembro. Seminários. Apresentações no Corredor Cultural. Ginkanas nas escolas, etc. Mas é a exibição do espetáculo o Auto da Liberdade, maior espetáculo brasileiro em palco ao ar livre, que celebra os quatro atos libertários do município de Mossoró: Abolição dos Escravos (30 de setembro de 1883 - 5 anos antes da Lei Áurea); O Motim das Mulheres (30 de agosto 1875) comandado por Ana Floriano; A Resistência ao bando do mais famoso cangaceiro do Nordeste, Lampião, (13 de junho de1927) e O Primeiro Voto Feminino, de Celina Guimarães Viana (1928) e o Cortejo da Liberdade que expressam, mais fortemente, este sentimento de liberdade e luta.
O espetáculo, este ano, aconteceu em vários bairros da cidade. O Cortejo da Liberdade encerra as comemorações. O tradicional desfile é dividido em três momentos: o primeiro, representado pelos militares, o segundo momento é o das fanfarras culturais e o terceiro e último momento é cível, reunindo grupos de escoteiros, representantes das escolas e lojas maçônicas da cidade.
Se a história contada nos palcos, nas ruas e nas exposições exaltam a bravura, a resistência e o pioneirismo do povo mossoroense há quem afirme que por aqui não havia nenhum escravo, que Lampião não entrou na terra de Santa Luzia em respeito a protetora de seus olhos, mandando apenas seus capangas. Em relação ao primeiro voto feminino do Brasil, há documentos que afirmam que ele aconteceu em Natal, restando como verdadeiro apenas a revolta das mulheres comandada por Ana Floriano contra o alistamento militar obrigatório.
Verdade ou fantasia a nossa história é contada em um belo e apaixonante espetáculo com presença de artistas da terra o que mostra que se nos perdemos na história somos um palco de grandes talentos seja na arte cênica, na música, nas letras, nas artes plásticas...
Tramita na câmara municipal um projeto de lei que torna obrigatório o ensino da história do município nas séries iniciais.
Que história será contada/ensinada? Provavelmente a dos vencedores. E viva a liberdade! Mesmo esta, construída em cima de tradições inventadas que nos fez conhecidos como a cidade do Sal, do Petróleo e da Liberdade.
*Tribo indígena que deu origem ao nome de nossa cidade.